O são João vem chegando... E todo ano além d’eu dançar bastante, comer uma infinidade de comidas típicas e até tomar umas cachacinhas (até porque ninguém é de ferro), todo ano também me indago sobre as músicas tocadas em tal manifestação popular. Pra ser mais curto e grosso, fico me perguntando se o que eu escuto é Forró de fato e me questiono a qualidade de dessas músicas que nos é empurrada goela a baixo. Pois bem, partindo do pré suposto de que Forró é um festejo executado em forma de dança e música e por pessoas de origem popular, percebo a cada ano que o Forró virou uma espécie de comercio industrial, cuja meta é simplesmente vender “bens culturais”, comercio esse que tem como ferramentas a apologia ao álcool e a prostituição. Comercio esse travestido na forma de “cultura de massa”
O que encontramos hoje no NE é uma exacerbada proliferação de “bandas fuleragens”, ou seja, bandas que não assumem compromisso moral com seus fãs e os tratam de maneira desrespeitosa. Acho um tanto quanto preocupante, pois nossas crianças crescem tendo que “engolir” no dia-a-dia canções que difamam as mulheres, e , mais inaceitável ainda é o comportamento feminino diante de tal situação. Boa parte das mulheres “forrozeiras” pagam ingressos para adentrar e assistir a um show desses, tudo isso para serem tachadas de “vadias, prostitutas, cachorras” e tantos outros adjetivos absurdos. Até compreendo que o ritmo do forró estilizado seja dançante, mas existem tantos outros ritmos dançantes por aí que não tem como essência o escracho feminino. Acho que também tenho direito a ter tal preconceito. Não sou obrigado a gostar do “oxentmusic”. Quando me proponho a falar sobre Forró, tento abordar o dito “Forró de verdade”, pois julgo eu, ser o começo de tudo, ser a essência do ritmo.
Sendo assim, vamos para o que nos interessa; o Forrobodó. O Forró é uma dança tipicamente nordestina, porém de influencias várias que vão desde as européias Chula (batizada por aqui de “Xote”), Polka (rastapé e quadrilhas), danças africanas e até o Toré, ritmo tipicamente indígena. Algumas danças e ritmos são “crias” do Forrobodó, tais como o já citado Xote, Baião, Xaxado, Xenhenhem, Samba de Latada, Rojão, Coco, Balanceio, além é claro, das variações Forró pé-de-serra e Forró Arrasta-pé. Todos estes ritmos e danças vieram da aceleração, redução, compasso e descompasso existentes no Forrobodó.
Atualmente há duas teorias para o surgimento da nomenclatura Forró. Segundo Câmara Cascudo, Forrobodó vem do dialeto africano Bantu e quer dizer confusão ou farra, a versão de Cascudo é a mais aceita. Porém há outra versão (inclusive defendida também por inúmeros pesquisadores). Tal teoria diz que a expressão Forró vem do inglês “For All”, ou seja, “para todos”. Essa versão diz que os engenheiros ingleses da ferrovia (The Great Western of Brazil Railway Company Limited) ao promoverem suas festas, colocavam um letreiro na porta com os dizeres ‘For All’, sabemos que os ingleses não têm como habito cultural se misturar com a “plebe”, além do que a cabroeira nordestina não sabia nem ler em português o que dirá em inglês, então acho pouco provável tal teoria e prefiro ficar com a versão de Luis Câmara Cascudo, por achar mais plausível.
As festas de Forró no final do século XIX e começo do XX eram conhecidas como Forrobodós ou Forrobodanças, respectivamente sendo traduzidas como “bagunça do povo” e “festa para todos dançarem”. Há quem diga que as festas de Forró são “carnavais sanfonados”, ou seja, o ritmo é tão contagiante que se torna quase que impossível não cair em suas graças e começar a arrastar o pé (seja acompanhado ou não). Sua temática, assim como o ritmo, também pode variar muito, mas os principais assuntos são as vivencias do cotidiano nordestino, que podem ser expostos tanto de forma triste e sarcástica como de maneira alegre e saudosista. Há também as letras de “segundas intenções” (gênero criado por Genival Lacerda) e as letras maliciosas de baixo calão e apelativas (muito difundida por bandas cearences).
O Forró tem como característica musical o tripé: Sanfona, Zabumba e Triangulo. Isso não quer dizer que não possa se acrescentar novos instrumentos a sua musicalidade. Na maioria das vezes os instrumentos acrescentados são: Pífano, Cavaquinho, Rabeca, Pandeiro, Agogô, Violão, Baixo, teclados e até guitarras (implantada por Luiz Gonzaga nos anos 80). No que tange o campo da dança, o ritmo é dançado por casais e dependendo da modalidade, como por exemplo, na quadrilha, os casais trocam de par. O forró é algo simples e eclético, se faltou homem na dança, não tem problema, dança amiga com amiga mesmo.
O Forró, como toda manifestação cultural teve seu ápice e sua fase obscura. Sua ascensão se deu nas décadas de 50/60 com a migração dos nordestinos para o “Sul” e principalmente em 70, pois foi nessa época que surgiram (nas capitais “sulistas” – São Paulo, Rio e Brasília) as “Casas de Forró”, espaços onde os artistas nordestinos tinham voz e vez para mostrar sua musicalidade. Sua queda se dá por volta dos anos 80, o Forrobodó já não interessava as novas gerações, que por sinal estavam deslumbradas com as luzes das discotecas e com o rock nacional. É aí que no final da década de 90, o Forró volta com força e cai novamente no gosto do publico. É nesse período que surge o Forró Universitário. Nos anos dois mil, para que tal “ressurreição” acontecesse foi preciso o Forró se vestir de acordo com a moda. Moda essa que conhecemos hoje, moda essa voltada ao mercado de bens culturais, moda que deturpa e que passa... Porém não passará jamais o bom Forró, pois esse é feito de (e com) paixão, não é uma maquina pré-fabricada de fazer dinheiro.
Então o que finalmente é Forró? Quem sou eu pra responder tal pergunta, deixo a resposta por conta de quem entende do ramo. Jacinto Silva certa vez falou (de maneira resumida, porém convincente) que: “Forró é poeira, é simplicidade.
Referências Bibiográficas:
-Alvarenga, Oneyda. 1942. Música Popular Brasileira. São Paulo. ‘Lundu e Danças Afins’. P.177. 2ª Edição.
- Cascudo, Luís da C. 1962. Dicionário do Folclore Brasileiro. 2ª ED. Rio de .Janeiro. Instituto Nacional do Livro. Ministério da Educação e Cultura.
- Cascudo, Luís da Câmara. 1988. Dicionário do Folclore Brasileiro. 6ª Edição. Belo Horizonte, Itatiaia - São Paulo. p. 95. Editora da Universidade de São Paulo.
- Phaelante, Renato. Set / Out de 1995. Forró: Identidade Nordestina. Fundação joaquim Nabuco (Instituto de Pesquisas Sociais / Departamento de Antropologia). Recife - PE. Brasil.
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