sábado, 29 de maio de 2010

Vitalino - O Nordeste Sente Saudade do Mestre


Certo dia (não se sabe ao certo o dia, mas o ano era 1915) aparece na feira de Caruaru um menino tímido e franzino igual aos demais da região num fosse pelo seu dom na arte da cerâmica, arte essa que mais tarde não só a feira de Caruaru como um “taco” do mundo viria a conhecer. O menino se chamava Vitalino Pereira dos Santos e era filho de pai agricultor e mãe ceramista. Seu pai cuidava da roça e extraia o barro massapé nas margens do rio Ipojuca para que sua esposa fabricasse as peças de cerâmica utilitária; tais como pratos, potes e canecas.

Mas ou menos com seis ou sete anos, o menino Vitalino, com as sobras do barro das peças de sua mãe, fazia seus próprios brinquedos. Escupia bois, cavalos, galinhas, patos, guines, porcos e uma infinidades de bichos que existia no campo. Assim, enquanto brincava ao lado da sua mãe, o moleque estava aprendendo uma profissão (já que nos anos 20 no NE o futuro era incerto) e nem sabia! Quando sua mãe ia cozinhar as peças no forno, Vitalino colocava também seus brinquedos que o mesmo passara a manhã fazendo.


Com as peças todas prontas e a plantação colhida era chegada à hora do seu pai colocar os arreios no jegue e encher o caçuá (cesto grande de palha) com a produção do seu roçado e das cerâmicas da esposa para levar a feira de Caruaru na intenção de vender e/ou até mesmo trocar por outros gêneros alimentícios.


O tempo foi passando... Com quinze anos Vitalino já desenvolvia algumas peças de decoração e nos anos 30 já com vinte e um anos, sua técnica havia se aprimorado e o jovem artesão se destacava com suas peças. Esse destaque se dava pelo fato de suas obras descreverem o cotidiano Nordestino, ou seja, Vitalino retratava em suas peças cenas do dia-a-dia campal como a ordenha de uma vaca, um vaqueiro montado em seu cavalo, carros de bois, o lavrador com sua enchada nos ombros, etc.


Por retratar o cotidiano é que o artesão se destacou, suas peças eram mais que meras peças de cerâmica utilitária. Ele foi além, fez peças decorativas e consequentemente pertence a ele o titulo de propulsor da arte de esculpir a vida do povo Nordestino. Em 1930 o movimento de banditismo mais conhecido como Cangaço alcançava seu auge no nordeste e Vitalino que (apesar de ser analfabeto) não era bobo nem nada, resolveu se apropriar em parte da situação e começou a esculpir cangaceiros enfileirados e soldados também. Sua freguesia foi aumentando e sua fama se espalhando... Logo começou a fazer trabalhos por encomenda: Fazia bonecos de Padres, Médicos, costureiras, bacamarteiros, caçadores, feirantes, músicos e outras dezenas de profissões. Para que sua arte ficasse mais “vistosa”, Vitalino começou a pintar as peças (como se precisasse de cores para se apreciar obras de tamanha grandeza).


Assim como a freguesia aumentava, as criações do mestre se diferenciavam cada vez mais, Vitalino criou um pouco mais de 130 cenas que iam de banda de pífanos, quadrilhas juninas, pastoris, vaquejadas, casamentos a funeral! Vitalino até hoje é o ceramista mais conhecido do Brasil no mundo, tendo algumas de suas obras expostas em vários museus do mundo, por exemplo, no museu do Louvre em Paris-França. A arte de Vitalino se encaixa no que hoje chamamos de ‘arte figurativa’, pois, retrata o cotidiano sócio-cultural do povo de uma determinada região, seja esse cotidiano triste e/ou alegre.


Nascido no distrito de Ribeira dos Campos na cidade de caruaru, Mestre Vitalino também era musico, tocava pífano e segundo consta era um “cabra sem covardia”. Amigo de todas as horas, gostava de ajudar a todos. Para ele não existia concorrência, repassava seus conhecimentos e suas técnicas para os outros artesãos. Queria ver mesmo era a arte cada fez mais difundida.

Todo esse fervor artístico brotou no Alto do Moura, localizado a 8km da cidade de Caruaru, lá Vitalino foi morar em 1947 quando completou 38 anos, foi lá que ele se dedicou totalmente a seu oficio de artesão sobrevivendo das suas criações sem a necessidade de plantar nem colher. Sua arte era reconhecida, criou seus filhos com o que escupia. Entretanto, tal reconhecimento não veio na dose merecida. O Mestre faleceu pobre em 1963.

É no Alto do Moura que se encontra seus discípulos e onde funciona (desde 1971) a casa-museu do Mestre Vitalino, administrada por seu filho Severino Vitalino que por sinal também herdou o oficio de “bonequeiro” do pai.


Mestre Vitalino deixou dezenas de seguidores da sua arte. Hoje em dia, não só o Brasil conhece a obra do maior escultor nordestino como também durante toda época do ano o Alto do Moura recebe a visita e reconhecimento de turistas vindo de dezenas de países. Graças ao “bonequeiro” Vitalino, a feira de Caruaru ficou ainda mais conhecida. Graças ao Mestre Vitalino o Alto do Moura é repleto de turista. Graças a Vitalino Pereira dos Santos a arte nordestina, no que tange o campo da escultura, despontou para o mundo e é por esse motivo que dedico este texto a simples, porém, sofisticada e pioneira obra do Mestre Vitalino.

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