sexta-feira, 28 de maio de 2010

Rio Capibaribe, a Capivara Pernambucana



O rio Capibaribe sem sombra de duvidas é um dos rios mais importantes do estado de Pernambuco, citado em vários trabalhos acadêmicos e num montante de livros e poemas, a exemplo disso temos “O Rio” (1953) de João Cabral de Melo Neto (1920-1999). Existe também algumas reportagens sobre o rio, a titulo de conhecimento temos um especial exibido em Janeiro de 2006 no “Globo Rural”, em (2007) outro especial no programa “Mais Você”, ambos da rede globo. Seu nome é derivado da língua Tupi: Caapiuar-y-be ou Capibara-ybe (ou ipe) o que significa Rio das Capivaras. Sua nascente se dá na serra do Jacacará, na divisa dos municípios de Jataúba e Poção, ambos localizados em PE. Da nascente a foz o rio percorre 250 km, possui 74 afluentes e banha 43 municípios, dentre eles Jataúba, Poção, Sta. Cruz do Capibaribe, Toritama, Limoeiro e Paudalho, até chegar ao Recife e desaguar no Oceano Atlântico. Com uma bacia hidrográfica de 7.716 km² representa 7,8% do território estadual.

Apesar de ser um gigante natural no estado de Pernambuco, o Capibaribe tem seu curso dividido em três partes, no alto e médio as águas são sazonais (alguns meses do ano o rio seca completamente na sua superfície), no denominado baixo curso (a partir de Limoeiro), suas águas são perenes (sem períodos de seca). Para que se tenha mais ou menos uma noção da importância econômica do Rio Capibaribe para a economia pernambucana, podemos nos referir, por exemplo; a foto tirada por Marc Ferrez em 1875, onde podemos ver navios ancorados em frente ao cais do Tapiche.

Através de suas várzeas se formaram os primeiros engenhos de cana-de-açúcar. O rio, durante muito tempo foi também acesso entre o interior e a capital, como vimos no auto de natal Morte e Vida Severina (1966) - em 1985 pela rede Globo, tornou-se mine serie - Tal narração é de autoria de João Cabral de Melo Neto e relata o sofrimento do matuto em seu êxodo rural para a capital. Onde julgava; chegando ao Recife, obter vida melhor. A saga chega ao fim quando o mesmo percebe que na capital o sofrimento é pior. O Capibaribe e suas estórias contraditórias fazem parte da identidade do povo pernambucano, pois, ao mesmo tempo em que se tem um rio gerador de progresso no século XIX, nos séculos XX e XXI encontramos um rio que pede ajuda para não morrer.

A principal causa da poluição do Capibaribe é a ocupação desordenada e o lançamento diário de esgoto não tratado. Outro de seus problemas se encontra no eixo Santa Cruz do Capibaribe-Toritama. Pois, é nessa faixa do rio que o mesmo recebe a maior carga de poluição em seu curso. Tendo em vista que em Sta. Cruz e Toritama a economia é em parte baseada na fabricação e lavagem do jeans, consequentemente há muito efluente industrial tornando assim a poluição muito grande no rio. Em 2003 a Agência Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (CPRH) fez um levantamento alarmante, das 56 lavanderias nenhuma delas possuía alvará de funcionamento. Sem pagar impostos e sem um órgão que as fiscalizassem, as lavanderias tinham carta branca para despejar a quantidade de poluentes que bem entendesse no rio, sem a preocupação de multas e a menor consciência ambiental. Felizmente em 2004, um termo de conduta foi assinado pelos empresários donos das lavanderias, um grande passo em pró da “saúde” do rio. Há também a questão de restos de animais provindos de matadouros clandestinos que são jogados ao longo do rio. Em algumas cidades por onde o Capibaribe passa existe verdadeiros lixões onde podemos encontrar todo e qualquer objeto feito pelo homem, de simples garrafas pet’s, a sofás e geladeiras (exemplo bem parecido com o rio Tiête-SP). Engana-se quem pensa que as indústrias são as maiores poluidoras do Rio Capibaribe. A questão do assoreamento do rio é o principal fator destrutivo, pois, em várias cidades por onde o rio passa, não existe um programa de revitalização das suas margens, a mata ciliar resumisse praticamente a capim ou cana-de-açúcar.

Apesar de tudo o Capibaribe tenta se reerguer novamente e se tornar mais uma vez tão imponente quando há anos atrás. Graças ao empenho de movimentos como o Recapibaribe, encabeçado pelo casal André e Socorro Cantanhede, o rio respira mais um pouco e consegue ser mais limpo e digno dos poemas dedicados a ele. Se em 1901 as margens do rio deu-se nome ao Clube Náutico Capibaribe, hoje em Recife o rio é tão poluído quanto o Beberibe (outro rio importante que corta as avenidas da nossa Veneza brasileira). A fedentina é quase que insuportável. O rio de águas serenas, cartão postal da cidade do Recife também é um rio doente e fedido que quase não tem vida. Ao cruzar a região metropolitana da cidade Maurícia (antigo nome dado ao Recife), o Capibaribe hoje em dia assim como tantos outros rios brasileiros, é quase um esgoto a céu aberto.

Ainda dá tempo salvar nosso lindo rio, falta um pouco de vontade não só dos governantes, mas sim de cada um de nós. Mais recursos para limpar o rio e fiscalização nas empresas que o poluem são importantes passos, porém o passo maior que podemos dar parte de nós mesmos, pois, a partir do momento que deixamos de desmatar suas matas ciliares e jogar lixo e esgoto em suas águas, o Capibaribe se revitaliza naturalmente, consequentemente volta a ser o rio cheio de vida que em outrora foi.

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