Muitos confundem Maracatu de Baque Solto com o Maracatu de Baque Virado e alguns até acham que é a mesma coisa, ledo engano. Pois há diferenciações gritantes entre eles. Tais diferenças vão desde a história de seu surgimento, a métrica do ritmo e seus instrumentos como também seus personagens. Se você ainda confunde estes dois folguedos, tentarei aqui, te ajudar a diferenciá-los.
O Maracatu de Baque Solto é criado posteriormente ao Maracatu de Baque Virado. Surge na zona da mata pernambucana (mais especificamente na mata norte) já nos século XIX e XX quando trabalhadores rurais do interior migram para a zona da mata a fim de encontrar trabalho. O Maracatu de Baque solto sofreu uma mescla de outros folguedos proveniente de todo território pernambucano, tais como Pastoril, Cavalo Marinho, Bumba-meu-Boi, Folia de Reis, Caboclinho e outros mais. O Maracatu Rural (como também é conhecido) sofreu influência no que diz respeito a todo o conjunto da obra. Em relação aos instrumentos, o Maracatu Rural também conhecido como “Maracatu de Orquestra” é diferenciado do maracatu nação. A sua orquestra é composta por tarol (ou caixa), surdo, ganzá, chocalhos, ‘poica” (cuíca), zabumba, gonguê e a orquestra em sim com clarinete, saxofone, trombone e corneta (pistom). Outra diferenciação é que, no Rural o coro é exclusivamente feminino (mas pode variar de agremiação pra agremiação). Tais mudanças instrumentais ocasionaram uma “acelerada” no ritmo, se comparado ao Maracatu Nação, o Rural ritmicamente falando é mais rápido, não tendo a marcação lenta que o Maracatu de Baque Virado tem.
O Maracatu Rural tem como personagens o Rei, a Rainha, a Porta Bandeira também chamada de Baliza, a Dama do Passo (ou Paço), o Mateus, a Catirina, a Burra e o Caçador, as Portas-Buquê, as Baianas, a boneca Aurora, os Caboclos de Pena (que não usam lança e sim machado) também chamados Tuxau ou Arreimá, carregam na cabeça um grande cocar de penas (na maioria das vezes de pavão). Como no Macaratu Nação, no Maracatu Rural também há o Vassalo ou “Menino da Sombrinha”. E por fim, o personagem principal: o Caboclo de Lança. O Caboclo de Lança é o guerreiro de Ogum, dá vida e alma ao folguedo formado por trabalhadores rurais (cortadores de cana) que, durante a brincadeira trocam suas enxadas e foices por lanças de madeira adornadas com fitas coloridas e seus chapéus de palha por volumosos, coloridos e exuberantes capacetes. Durante todo o ano economizam um pouco mais a fim de confeccionar seus mantos de cores “pura psicodélia”. Os mantos representam a armadura na encenação da batalha, alguns também usam grandes óculos e um cravo branco na boca.
Há relatos de que algumas batalhas entre as agremiações ocorriam de verdade e quando não matava feria gravemente o guerreiro. A música “Cruzeira das Bringas”, cantada por Siba e a Fuloresta do Samba relata bem uma dessas sangrentas batalhas reais aonde os caboclos se deslocavam até tal cruzeiro para duelar até a morte. Felizmente hoje a batalha é fictícia, porém de maneira tão realista que às vezes chegamos a pensar que a qualquer momento irá começar um daqueles antigos duelos de vida ou morte.
No Maracatu de Baque Solto não há cortejo real, quem comanda a brincadeira é o apito e/ou a bengala do Mestre que orienta a movimentação do Maracatu. O mestre também é responsável pela cantoria das toadas. Quatro personagens abrem a brincadeira: Mateus, Catirina, a burra e o caçador. A dança é realizada em dois círculos (um dentro do outro). Os caboclos de lança correm pelo circulo de fora encenando a batalha e golpeando suas lanças para cima e para baixo, para um lado e para o outro, segurando-a firme com as duas mãos, enquanto correm carregam uns chocalhos nas costas dando a marcação acelerada do maracatu rural. Enquanto isso no circulo interior dançam as damas de buquê e baianas onde podemos observar ao centro da roda os caboclos de pena, a boneca e o estandarte (que também pode ficar na frente do maracatu).
Algumas prefeituras fornecem subsídios às agremiações, algo como transporte e/ou dinheiro para a compra dos enfeites e confecções das roupas, porém a ajuda por mais que seja “de bom coração” ainda é pouco, pois as agremiações “sobrevivem” com suas apresentações (quando tem aonde se apresentar) e das economias dos brincantes. O Movimento Mangue também não esqueceu o Maracatu de Baque Solto e se fez influenciar por tal folguedo, juntando as guitarras de rock com esse efervescente ritmo Pernambucano.
No Maracatu Nação houve uma abertura no que tange o campo dos participantes no folguedo, hoje em dia não são mais os escravos que se apresentam em terreiros ou igrejas, mas sim a sociedade
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