domingo, 30 de maio de 2010

Baião

Em meados do século XX o sudeste ainda escutava canções enfadonhas, eruditas e tristes como Machinhas, maxixe e Boleros. Foi ai que um compositor Pernambucano chamado Luiz Gonzaga (1912-1989), vindo do sertão lhes apresentou um ritmo novo, contagiante e alegre chamado Baião. Não demorou muito para os “sulistas” se agradarem do tal Baião. O Baião é um ritmo derivado de outro chamado Lundu (o Lundu segundo o sociólogo Waldenyr Caldas, chegou ao nosso país ainda no século XVI trazido por escravos. Portanto, de origem Afro), é também influenciado pelo Samba e o Conga (ritmo latino ‘cubano’). Apesar de ser um primo irmão do Lundu, o Baião segundo Câmara Cascudo, só veio a ser criado no século XIX, mas é no século XX (após 1946) que ele desbanca o Bolero e se torna “paixão nacional”.


Nos anos 50, o Baião vira uma verdadeira febre e vários artistas de outras vertentes musicais se rendem ao seu charme gravando suas canções, dentre esses artistas temos como exemplo Carmem Miranda e Jamelão. Apesar da Bossa Nova na década de 60 colocar um pouco de água no chopp do Baião, o mesmo ainda persistia e resistia principalmente pelo fato de ser mais “povo”, até porque a Bossa Nova usava smokin e tomava champagne, enquanto o Baião vestia gibão (vestimenta rústica tradicional dos vaqueiros nordestinos) e tomava cachaça.


Com o surgimento da industria cultural, o baião sofre mais um grande baque e definha mais ainda na década 70. Mas como bom nordestino, ainda tinha forças pra lutar e foi o que fez, através de artistas como o próprio Luiz Gonzaga, Dominguinhos e outros tantos que lutaram para que o Baião não fosse esquecido (ou engolido) pela modernidade, pela industria cultural que cada vez mais trazia o Rock’n’roll americano. Entretanto, no meio dessa confusão toda ocorre uma contradição, até o Rock se rende ao Baião - Como assim? - Vou explicar: como a Tropicália se apropriava de vários ritmos, o Baião não ficou de fora e se misturou com a Tropicália (ou ao contrário, tanto faz...), como a Tropicália também fundia elementos do Rock’n’roll, não foi difícil o Rock mescla-se ao Baião. Então, pra encurtar a estória, é criado por Raul Seixas o Baioque, uma mistura de Rock e Baião que se transformou numa espécie de ‘musica country brazuca”.


O titulo de Rei do Baião dado a Luiz Gonzaga não é por acaso. Esse Pernambucano de Exu não só foi o percussor do ritmo no sudeste como também inventou uma forma única e marcante de se tocar, um dos critérios fundamentais para se definir o Baião do Forró. Conzagão tocava de maneira única, “resfulengando” o fole, ou seja, quando ia “bombar” o acordeom, não fazia o movimento de vai-e-vem (comum entre os sanfoneiros da época) e sim, tremia a sanfona fazendo com que a mesma desce a impressão de está “gemendo”. Esta pequena, porém importante mudança na estética de tocar a sanfona é a marca registrada do Baião. Luiz Gonzaga foi importante para o Baião não só pelo fato de divulgá-lo, mas sim, de extraí-lo das violas dos cantadores sertanejos e transferi-lo para o fole. O Baião ostentava ainda uma rainha, uma princesa e um herdeiro do trono, respectivamente; Carmélia Alves, Claudette Soares e José Domingos de Morais (Dominguinhos). Muitos confundem a origem do Baião e pensam que o mesmo foi criado por Gonzaga, porém isso não é verdade. Luiz foi o grande propagador desse ritmo, não o criador. Aliás, não se tem idéia (se é que existiu) de quem criou o Baião, mas isso é o de menos, concordam?

Nenhum comentário:

Postar um comentário