No Nordeste existem inúmeros poetas repentistas. Na Paraíba temos um celeiro de grandes poetas do Repente na região conhecida como Cariri e o Pajeú. Em Pernambuco essa prática não é diferente e também se pode notar o vigor cultural do Repente tanto na capital quanto no Sertão. A região pernambucana onde essa pratica ocorre com mais freqüência é o Sertão. É de cidades como Serra Talhada, São José do Egito e Arcoverde que saem os mais inspirados versos e os mais renomados poetas repentistas. Na capital pernambucana esses artistas se concentram na praça do Diário. (o mais velho jornal em circulação das Américas), não só os repentistas, mas também os emboladores de coco fazem da praça do Diário seu palco e tiram dali o sustento de cada dia. Mas nem só de migalhas vive o Repente.
O Repente é um tipo de cantoria popular geralmente formada por uma dupla de violeiros que de punho de suas violas de dez cordas dedilham um soar melancólico de quem tem algo a dizer, seja um verso de protesto, de exaltação ou de saudade. Essa arte musicada, assim como a literatura de cordel e a Xilogravura surgiu na Europa em meados do século XI. A música nesse período não existia só dentro dos palácios, é nesse período que a música passa a ser de conhecimento das camadas mais pobres. Enquanto a música lírica tinha a finalidade de divertir a nobreza, a música popular era o recurso usado (ao mesmo tempo) para divertir e advertir sobre os fatos políticos, econômicos e sociais que acontecia naquele vilarejo ou feudo.
Os músicos repentistas geralmente cantavam em feiras e eventos agrícolas, sendo assim, tinham que se expressar de maneira simples para que toda a plebe (público alvo) entendesse seu recado. Além do que o repentista também estava inserido naquele meio agrário, pois era filho de (ou o próprio) agricultor. As temáticas iam do cotidiano lúdico local à política elaborada. Muitas vezes era apenas relatos, outras vezes desafios entre a dupla de repentistas, etc. O fato é que, tanto na Idade Média quanto em nossa época o repente fala dos mais diversos assuntos sem deixar de abordar em seus versos o eixo central da “vida como ela é”. A palavra Repente já diz tudo, pois, o repentista é o sujeito que tem o dom de versar sobre qualquer tema ou “mote” que lhe derem, ou seja, as palavras pensadas são rimadas e saem de repente! (naturalmente).
Assim como toda música, o Repente obedece algumas métricas. Dependendo da melodia dos versos podemos dizer que o Repente pode vim em Quadra, Sextilha, Septilha, Oitava, Quadrão, Décima e Martelo agalopado ou alagoano.
-Rimas em Quadra: ABAB - (opcionalmente) A primeira linha rima com a terceira e (obrigatoriamente) a segunda rima com a quarta.
-Rimas em Sextilha: ABCBCB - Rimam os segundo, quarto e sexto versos. É o estilo mais utilizado.
-Rimas em Septilhas: ABCBCCB - Na septilha usa-se o estilo de rimar os segundo, quarto e sétimo versos e o quinto com o sexto, podendo deixar livres o primeiro e o terceiro.
-Rimas em Oitavas: AAABBCCB - É mais complicada, pois rima a primeira linha com a segunda e terceira, a quarta com a quinta e oitava e a sexta com a sétima.
-Rimas em Quadrão: AAABBCC + mote em B - Os três primeiros versos rimam entre si, o quarto com o quinto e o oitavo, o sexto e o sétimo também entre si. Geralmente muito usado em cantorias com mote, pois todas estrofes são intercaladas com a mesma frase no final de cada uma.
-Rimas em Décimas: ABBAACCDDC – A primeira estrofe rima com a quarta e a quinta, a segunda com a terceira, a sexta rima com a setima e a decima, por fim, a oitava rima com a noma. Mais utilizadas em “pelejas” (sagas), geralmente também acompanhada de mote.
Há ainda as cantorias em Galope à Beira-Mar, onde a metrica é identica as estrofes tradicionais em décima (ABBAACCDD + o mote “martelo à beira-mar” ou alguma outra frase que contenha a palavra mar) e os Martelos; Agalopado e Alagoano. Usados normalmente nos desafios (duelos) entre as duplas. A diferença entre os martelos é que o Martelo Agalopado consiste em estrofes de dez versos decassilabos e o Martelo Alagoano em estrofes de seis versos decassilabos.
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