quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Bonecos Gigantes de Olinda

Só indo ao carnaval de Olinda para entender a força cultural que bonecos inanimados de  isopor, madeira e pano criam no imaginário dos brincantes. Como sabemos a geografia de Olinda em nada ajuda os carregadores dos bonecos, além das intermináveis ladeiras, pesa o fardo de carregar o boneco durantes horas num calor insuportável de mais de 40° graus. Pois, como o carnaval é realizado no verão, o calor e a maresia em Olinda são realmente os maiores “inimigos” dos carregadores dos bonecos, homens que com muita garra dão vida aos gigantescos bonecos que podem chegar a 4 metros de altura. Sem os carregadores, os bonecos seriam apenas bonecos e não personagens vivos da nossa cultura.

Reza a lenda que o primeiro boneco gigante a surgir no carnaval olindense foi “O Homem da Meia-Noite”, que desde então abre os festejos carnavalescos da cidade saindo de sua sede no sábado carregando a chave simbólica da cidade precisamente a meia-noite. Esse personagem foi criado em 1932, muito elegante, traja terno verde e branco, palito e cartola pretos e até um dente de ouro. O home da meia-noite reinou imponente no carnaval de Olinda até o ano de 1967, quando artesãos criaram uma companhia para o mesmo. “A Mulher do Meio-Dia”. Inspirada nos traças da Mona Lisa de Leonardo da Vinci, a mulher do meio-dia tem uma vasta cabeleira longa e negra, tendo suas vestimentas nas cores azul e branco, homenageando as orixás Iemanjá e Oxum, formando assim o tão já conhecido sincretismo religioso brasileiro. Um fato bastante curioso é que o homem da meia-noite e a mulher do meio-dia nunca se encontraram, pois devido ao horário fica impossível esse encontro, tendo em vista que a diferença entre um cortejo e outro são de 12 horas!

A partir do homem da meia-noite e da mulher do meio-dia surgem em 1974 e 1977 os respectivos “Menino e Menina da Tarde”. Porém com o passar dos anos, o pantaleão de bonecos cresce, hoje chegando há centenas, pois a cada ano são acrescentados novos personagens. Os bonecos geralmente são criados inspirados em personalidades locais como o torcedor Zé do Rádio, os cantores Chico Science, Alceu Valença e Reginaldo Rossi, os mascotes dos times e outras tantas personalidades do estado. Entretanto, os bonecos não se resumem apenas a homenagear figuras locais, também são confeccionados bonecos como apresentadores (Jô soares, Chacrinha e Luciano Huck), locutores (Galvão Bueno), atores (Chaplin), esportistas (Airton Senna, Ronaldo), políticos (Lula e Obana) e até personagens internacionais como astros do rock e revolucionários como Fidel Castro e Che Guevara.

No começo os bonecos pesavam 30 Kg, hoje com novas técnicas, os bonecos reduziram seu peso e chegam a 10 quilos, o que melhorou muito, pois a alegria e mobilidade aumentam. Na terça de carnaval, centenas de bonecos se reúnem nos largo do Guadalupe e Varadouro em Olinda, mas esses encontros ocorrem durante todos os dias carnavalescos. Mas os bonecos são se restringe a Olinda, na despedida do carnaval, os bonecos fazem um belo desfile pelas ruas do Recife antigo. No período não carnavalesco, os bonecos geralmente ficam em suas respectivas agremiações, raramente saem para apresentação extra carnaval. No Recife antigo, mas precisamente na rua do Bom Jesus, localiza-se a Embaixada dos bonecos gigantes, aberta de segunda a sábado das 8:00 as 18:00 e aos domingos das 8:00 as 19:00. No entanto se vocês não tiver tempo nem disponibilidade de ir lá pessoalmente, a embaixada tem um endereço eletrônico onde você pode conhecer a história dos bonecos e ver acesse: fotos dos eventos.

www.bonecosgigantesdeolinda.com.br

Teatro de Mamulengos

O teatro de Mamulengo tem origem na Idade Média (1300-1500). Seu uso a principio tem caráter litúrgico, a igreja Católica usava o teatro de marionetes para encenar a vida de Jesus, essa forma de espetáculo foi também denominado “Presépio Vivo”, em alusão aos presépios imóveis que até hoje enfeitam salas de inúmeras residências na época natalina. Naquela época eram raríssimos os momentos de descontração, ou seja, nesse período a população (principalmente a classe menos favorecida economicamente) não se dava ao luxo de ir a uma peça teatral romancista, nem muito menos a festas gloriosas regadas a camarões e vinho. A única maneira de se divertir era quando raramente sobrava um tempinho nos intervalos das árduas atividades diárias, para assistir ao teatro de Mamulengos. O nome se dá assim devido a manipulação dos bonecos, pois a mão fica mole, então (mão molenga = Mamulengo).

Segundo o folclorista Câmara Cascudo “o mamulengo é o mesmo que o guignol francês ou o pupazzi italiano”, pois em ambos os três, o cenário é feito de madeira e panos com manipuladores narrando estórias escondidos do publico. Desde seu surgimento as apresentações são nas praças. Entretanto podem ser apresentados em festas infantis, feiras culturais, etc. Aqui no Brasil, os mamulengos fazem parte da cultura Nordestina desde a época colonial, retratando as cenas do dia-a-dia, sejam cônicas ou denuncias de cunho político. Embora o teatro de Mamulengos tenha caráter informático, sua principal preocupação é divertir, ou seja, levar o cotidiano lúdico para a população, em especial para as crianças.

O Teatro de bonecos aqui citado, dependendo da região ganha outros nomes, tais como teatro de marionetes, fantoches ou títeres. Apesar das mudanças de nomes, a essência é a mesma. O material de fabricação por exemplo, em sua maioria confeccionados em forma de luvas ou bonecos articulados de madeira. Mas, a variação mais comum é feira de bonecos com cabeça de madeira, vestindo com camisolões de xita (tecido barato e fácil de encontrar nas feiras nordestinas) e mãos de papelão. As estórias são geralmente improvisadas de acordo com a interação do publico.

Os personagens são peculiares, vão desde delegados, coronéis latifundiários a vaqueiros e ladrões espertalhões. Englobando assim todas as camadas sociais brasileiras. No entanto, os personagens do teatro de Manulengos não se limitam apenas ao humano, transcendem o imaginário popular carregados de seres míticos que vão de animais falantes como bois, pássaros e cobras, até seres sobrenaturais como almas penadas, lobisomens e até a própria morte. Fazendo assim uma ponte entre o natural e o transcendental. São inúmeros os personagens continos em uma apresentação de Mamulengos, mas os nomes mais comuns que podemos encontrar nesses personagens são: Cabo 70, João Redondo, João Grilo, Zé vaqueiro, Maria Doida e professor Riridá.

Apesar de presente em todo Nordeste, o teatro de Mamulengo está quase que estinto, perdeu seu espaço para as mídias eletrônicas. Do final da década de 90 aos dias atuais não vemos mais encenações, não sei se pelo fato do desinteresse dos pais em apresentar essa forma de arte aos seus filhos ou falta de companhias que a apresentem. Nosso estado (Pernambuco) é ainda um dos poucos que apesar dos pesares essa cultura ainda sobrevive graças a persistência de mestres mamulengueiros como Zé Divina, Luís da Serra, Ginú, Saúba, Tonho de Pombos, Pedro Rosa, Zé Lopes, Antônio Biló, Manuel Marcelino entre tantos outros mestres anônimos e desconhecidos pela nossa ignorância cultural.

Em Olinda, o Espaço Tiridá abriga o Museus do Mamulengo, esse espaço procura preservar e divulgar essa tradição que vem se perdendo a cada ano. Lá existem cerca de 1.500 peças que contam um pouco da história dessa arte. Além de diariamente realizar apresentações. No estado existe também a Associação Pernambucana de Teatro de Bonecos (APTB). Lá podemos conhecer a luta árdua do que é ser mamulengueiro.
Para saber mais acesse: www.bonecosdepernambuco.com

Movimento Armorial

O Movimento Armorial surge exatamente no dia 18 de Outubro de 1970 na cidade do Recife. Seu mentor é o escritor, pintor e dramaturgo paraibano Ariano Suassuna. O projeto Armorial começou com cunho universitário, posteriormente foi abraçado pela prefeitura local e se tornou de conhecimento de todos, ou seja, não ficou restrito ao meio academico. Seu lançamento oficial se deu através de um concerto musical e uma exposição de artes plásticas realizados no Pátio de São Pedro, no centro da cidade. A principio, tem como meta valorizar a cultura popular do Nordeste brasileiro, pretendendo realizar uma arte brasileira erudita a partir das raízes populares da cultura do País. Em suma, o movimento Armorial prega uma cultura “essencialmente” Nordestina de raízes ibéricas e mouras vindas através das navegações coloniais.

“Sendo Armorial o conjunto de insígnias, brasões, estandartes e bandeiras de um povo, a heráldica é uma arte muito mais popular do que qualquer coisa. Desse modo, o nome adotado significou o desejo de ligação com essas heráldicas raízes culturais brasileiras”. (Ariano Suassuna)

Então o que é Armorial: É  qualquer tipo de manifestação que partir do popular e forma uma cultura “Regional Erudita” unindo literatura, dança, artes plasticas, cerânica, tapeçaria, arquitetura, gravura, teatro, música e folguedos populares. Porém com ressalva aos folhetos do romanceiro popular nordestino, a chamada literatura de cordel, pois, o Cordel reunir três formas de arte: as narrativas escritas em sua poesia, a Xilogravura ilustrativa das capas e a musicalidade dos poetas Repentistas. Os folguedos populares também são de suma importância para o Movimento Armorial, tais como Bumba meu Boi, Cavalo Marinho, Pastoril, Folia de Reis e os Maracatus (tanto de Baque solto quanto de Baque Virado).Os Mamulengos também estão inseridos no pantaleão de divindades armoriais. Sendo assim, o Armorial tem como base as declamações, encenações e poéticas populares. Embora valorize o imaginário e as tradições popular, o movimento Armorial tem por missão teorizar e “eruditizar” essas praticas.

Antônio Carlos Nobrega diz que “O movimento Armorial deu dignidade a cultura popular nordestina”. Sendo assim, o Armorial se faz presente na atualidade, um dos grandes divulgadores desse segmento é o próprio Antônio Nobrega com seu teatro brincante em São Paulo, serve de incentivo para expansão da cultura Armorial e popular. Porém há outros nomes que não devem ser esquecidos quando falamos desse movimento artístico, nomes como Francisco Brennand, J. Borges, Raimundo Carrero, Gilvan Samico e grupos como o Quinteto Armorial, Balé Armorial do Nordeste, Orquestra Romançal e Orquestra Armorial. O próprio Ariano aos 84 anos de idade ainda viaja todo o país difundindo o segmento artístico em aulas espetáculos.

Xilogravura

Provavelmente de origem Chinesa, a Xilogravura é uma das primeiras formas de impressão já feita pelo homem. Se as primeiras civilizações da África e do Oriente Médio (Sumérios e Egípcios) inventaram as escritas cuneiforme e Hieróglifos talhando-as em blocos de argila, séculos depois, os orientais criaram um sistema de impressão artesanal chamado Xilogravura. A Xilogravura nada mais é que algum desenho ou escrita talhada em peças de madeira na forma de relevo, podemos dizer que essa técnica é a versão primitiva das primeiras prensas, muito se assemelhando aos carimbos de hoje em. Os próprios egípcios conheciam a técnica de Xilogravura, porém a usavam para estampar tecidos. No Oriente (China e Japão) era usada para propagar escritos budistas. Mas é no continente europeu que a Xilogravura se expande contidas desde imagens sacras em papeis até cartas profanas de baralho. É a partir do século XV (1401-1500), que as “Xilos” começam a ter seu uso em maior escalas, pois, até então os livros eram escritos e ilustrados a mão. Com as prensas moveis desenvolvidas por Gutemberg as xilogravuras se resumiram as ilustrações apenas de imagens e não mais de palavras. A arte da Xilogravura tem meu ápice no período que vai do final da Idade Média e inicio da Idade Moderna, mas especificamente de 1450 a 1550. Pode ser elaborada de duas formas, na forma tradicional (preto-branco) ou colorido (vermelho, verde, amarelo e azul).

Para se fazer uma Xilogravura é necessário que se talhe um desenho em um bloco de madeira utilizando ferramentas cortantes sobre a peça matriz, deve-se lembrar que as “fendas” não serão pintadas, só serão pintadas as partes que permaneceram em relevo, vale lembrar que na técnica de Xilogravura o desenho é espelhado, ou seja, tudo fica ao contrário. Ex: Se você for fazer letras, faça ao contrário. Após talhada, pinte a madeira com um rolinho-pincel de forma uniforme. Feito isso, é só fazer pressão manualmente sobre uma folha, retirar com cuidado e esperar secar. Está pronta sua Xilogravura!

A Xilogravura chega ao Brasil a partir da vinda da família real portuguesa para cá no ano de 1807, pois só com a corte aqui é que livros poderiam ser impressos em terras tupiniquins. Atualmente a Xilogravura é muito difundida na região Nordeste graças ao Movimento Armorial (1970). Geralmente os próprios cordelistas são xilogravuristas, entretanto, existem artistas que dedicam seu tempo inteiramente a criar verdadeiras obras de arte em formas de Xilogravuras, nunca repetindo as mesmas peças. Sendo assim, a Xilogravura tanto serve para multiplicar uma idéia como pode ser criada para ser uma peça única. Em outras regiões também existem a popularização dessa arte. No Sul do país escolas adotam a Xilogravura como leitura paradidática. Já em estados como Paraíba, Ceará e Pernambuco teses de graduações e pós são baseadas na arte da Xilogravura.

Abaixo, alguns dos Xilogravuristas mais conceituados do Nordeste:

J. Borges, Abraão Batista, José Costa Leite, amaro Francisco, José Lourenço, Gilvan Samico, Ciro, Dila, Marcelo Soares, Sales Barros, lucena, João Pedro do Juazeiro entre tantos outros.


Literatura de Cordel

A literatura de Cordel surgiu na forma oral, ou seja, era difundida por meio de declamações em praças publicas da Europa medieval. Começou assim tendo em vista que 98% da população européia era analfabeta. Sendo assim, os poemas serviam para informar a população sobre os mais variados assuntos como religião, clima, transportes, impostos e principalmente política. Com o advento pra prensa (criada por Gutemberque) no século XVIII, os poemas populares começaram a ser impressos. Mas nem todos eram alfabetizados, os poucos da plebe que sabiam ler cobravam pela informação ali repassada.

Ex; O poeta cordelista chegava à praça ou feiras e começava a recitar as poesias contidas naquele livreto, o povo ia chegando e se interessado na história... Ao final da leitura, o poeta “passava o chapéu” e todos contribuíam com o que tinham. As poesias eram desde sempre rimadas, além do caráter informativo havia nas poesias uma pitada de humor negro destinado a criticar os governantes locais. Como a oposição aos governantes (reis ou senhores feudais) era proibida, os autores burlavam esta proibição com uma linguagem metafórica.

Posteriormente veio a ser chamado de Literatura de Cordel pelo fato dos folhetos serem expostos a venda em barbantes. Os folhetos se tornaram populares por três fatores. 1-Falava do cotidiano de maneira critica e lúdica. 2-Muitas vezes (ler ou escutar o Cordel) era o único momento de lazer da plebe feudal. 3-era barato, leve e portátil, pois era produzido com papel rústico, o que barateava os custos, além de se tratar de documento denuncia, poderia ser escondido ou descartado com facilidade, ao contrário dos livros da época, grandes e pesados.

Muitos folhetos eram ilustrados com Xilogravuras, o que o tornava mais atraente para a compra. Aqui no Brasil, o Cordel se popularizou mais na região Nordeste, o que não quer dizer que não exista Literatura de Cordel no Sudeste ou no Sul do país por exemplo. A respeito da métrica poética as estrofes mais usadas são as sextilhas, septilhas e decassílabas. Entretanto, além das rimas em 6, 7 e 10 existem outras tais como as quadras e oitavas.

Métricas:
-Rimas em Quadra: ABAB - (opcionalmente) A primeira linha rima com a terceira e (obrigatoriamente) a segunda rima com a quarta.
-Rimas em Sextilha: ABCBCB - Rimam os segundo, quarto e sexto versos. É o estilo mais utilizado.
-Rimas em Septilhas: ABCBCCB - Na septilha usa-se o estilo de rimar os segundo, quarto e sétimo versos e o quinto com o sexto, podendo deixar livres o primeiro e o terceiro.
-Rimas em Oitavas: AAABBCCB - É mais complicada, pois rima a primeira linha com a segunda e terceira, a quarta com a quinta e oitava e a sexta com a sétima.
-Rimas em Quadrão: AAABBCC + mote em B - Os três primeiros versos rimam entre si, o quarto com o quinto e o oitavo, o sexto e o sétimo também entre si. Geralmente muito usado em cantorias com mote, pois todas estrofes são intercaladas com a mesma frase no final de cada uma.
-Rimas em Décimas: ABBAACCDDC – A primeira estrofe rima com a quarta e a quinta, a segunda com a terceira, a sexta rima com a setima e a decima, por fim, a oitava rima com a noma. Mais utilizadas em “pelejas” (sagas), geralmente também acompanhada de mote.

Dentre os principais cordelistas nordestinos podemos citar J. Borges, Manoel Camilo dos Santos, Manoel Monteiro, J. Victtor, Rouxinol do Rinaré, Medeiros Braga, Abdias Campos, Vicente Campos Filho, Erievaldo Viana Lima, Kydelmir Dantas, Antonio Queiroz de França, Afrânio Brito, Gonçalo Ferreira da silva, Apolônio Alves dos Santos, Elias A. de Carvalho, expedito Sebastião da Silva, Firmino Teixeira do Amaral, Francisco das Chagas Batista, Francisco Sales Arêda, Gonçalo ferreira da Silva, João Ferreira de Lima, João Martins de Athayde, João Melchíades Ferreira, Joaquim Batista de Sena, José Camelo de Melo Resende, José Costa Leite, José Pacheco, Leonardo Gomes de Barros, Manoel D’ameida Filho, Raimundo Santa Helena, Severio Milanês, Silvino Pirauá, Zé da Luz ...

Site interessante: www.ablc.com.br

Poetas Repentistas

No Nordeste existem inúmeros poetas repentistas. Na Paraíba temos um celeiro de grandes poetas do Repente na região conhecida como Cariri e o Pajeú.  Em Pernambuco essa prática não é diferente e também se pode notar o vigor cultural do Repente tanto na capital quanto no Sertão. A região pernambucana onde essa pratica ocorre com mais freqüência é o Sertão. É de cidades como Serra Talhada, São José do Egito e Arcoverde que saem os mais inspirados versos e os mais renomados poetas repentistas. Na capital pernambucana esses artistas se concentram na praça do Diário. (o mais velho jornal em circulação das Américas), não só os repentistas, mas também os emboladores de coco fazem da praça do Diário seu palco e tiram dali o sustento de cada dia. Mas nem só de migalhas vive o Repente.

O Repente é um tipo de cantoria popular geralmente formada por uma dupla de violeiros que de punho de suas violas de dez cordas dedilham um soar melancólico de quem tem algo a dizer, seja um verso de protesto, de exaltação ou de saudade. Essa arte musicada, assim como a literatura de cordel e a Xilogravura surgiu na Europa em meados do século XI. A música nesse período não existia só dentro dos palácios, é nesse período que a música passa a ser de conhecimento das camadas mais pobres. Enquanto a música lírica tinha a finalidade de divertir a nobreza, a música popular era o recurso usado (ao mesmo tempo) para divertir e advertir sobre os fatos políticos, econômicos e sociais que acontecia naquele vilarejo ou feudo.

Os músicos repentistas geralmente cantavam em feiras e eventos agrícolas, sendo assim, tinham que se expressar de maneira simples para que toda a plebe (público alvo) entendesse seu recado. Além do que o repentista também estava inserido naquele meio agrário, pois era filho de (ou o próprio) agricultor. As temáticas iam do cotidiano lúdico local à política elaborada. Muitas vezes era apenas relatos, outras vezes desafios entre a dupla de repentistas, etc. O fato é que, tanto na Idade Média quanto em nossa época o repente fala dos mais diversos assuntos sem deixar de abordar em seus versos o eixo central da “vida como ela é”. A palavra Repente já diz tudo, pois, o repentista é o sujeito que tem o dom de versar sobre qualquer tema ou “mote” que lhe derem, ou seja, as palavras pensadas são rimadas e saem de repente! (naturalmente).

Assim como toda música, o Repente obedece algumas métricas. Dependendo da melodia dos versos podemos dizer que o Repente pode vim em Quadra, Sextilha, Septilha, Oitava, Quadrão, Décima e Martelo agalopado ou alagoano.

-Rimas em Quadra: ABAB - (opcionalmente) A primeira linha rima com a terceira e (obrigatoriamente) a segunda rima com a quarta.
-Rimas em Sextilha: ABCBCB - Rimam os segundo, quarto e sexto versos. É o estilo mais utilizado.
-Rimas em Septilhas: ABCBCCB - Na septilha usa-se o estilo de rimar os segundo, quarto e sétimo versos e o quinto com o sexto, podendo deixar livres o primeiro e o terceiro.
-Rimas em Oitavas: AAABBCCB - É mais complicada, pois rima a primeira linha com a segunda e terceira, a quarta com a quinta e oitava e a sexta com a sétima.
-Rimas em Quadrão: AAABBCC + mote em B - Os três primeiros versos rimam entre si, o quarto com o quinto e o oitavo, o sexto e o sétimo também entre si. Geralmente muito usado em cantorias com mote, pois todas estrofes são intercaladas com a mesma frase no final de cada uma.
-Rimas em Décimas: ABBAACCDDC – A primeira estrofe rima com a quarta e a quinta, a segunda com a terceira, a sexta rima com a setima e a decima, por fim, a oitava rima com a noma. Mais utilizadas em “pelejas” (sagas), geralmente também acompanhada de mote.
Há ainda as cantorias em Galope à Beira-Mar, onde a metrica é identica as estrofes tradicionais em décima (ABBAACCDD + o mote “martelo à beira-mar” ou alguma outra frase que contenha a palavra mar) e os Martelos; Agalopado e Alagoano. Usados normalmente nos desafios (duelos) entre as duplas. A diferença entre os martelos é que o Martelo Agalopado consiste em estrofes de dez versos decassilabos e o Martelo Alagoano em estrofes de seis versos decassilabos.

Dentre os principais repetentistas podemos citar ivanildo Vila Nova, Rogerio Menezes, Raimundo Nonato, Nonato Costa, Everaldo Nóbrega, Francisco Carvalho, João Furiba, Jó Patriota, José Alves Sobrinho, lourival Batista, Manoel Galdino Bandeira, Otacílio Batista, Pinto de Monteiro, Teixeirinha, Patativa do Assaré, etc.