quarta-feira, 23 de junho de 2010

Ciranda



Já que andei falando muito de ritmos Pernambucanos do interior, resolvi dá uma esticadinha até o litoral e falar dessa vez de uma dança muito popular nas praias do litoral Pernambucano. Pois bem, a Ciranda é uma dança muito conhecida não só em Olinda, Recife e Itamaracá como também em outras bandas do país. No que diz respeito à ciranda só tenho a acrescentar elogios, pois, é com uma boa ciranda que se espanta a tristeza. Além de ser um ritmo eclético, pois engloba todo e qualquer tipo de pessoa sem distinção alguma, independente de raça, status social, sexualidade, idade ou credo. Engana-se quem pensa que dançar Ciranda não é prazeroso pelo fato de ser uma dança simples, ao contrário. Quando se dança Ciranda se volta no tempo e se relembra as brincadeiras de infância que o tempo teima em nos fazer esquecer. A Ciranda não tem como finalidade só relembrar o passado, também serve para cultivar amizades presentes, pois, quando se está dançando Ciranda todo mundo é amigo e não existe competição.
Uma das teorias do surgimento da Ciranda é a de que a mesma foi criada pelas mulheres dos pescadores no intuito de distrair seus filhos enquanto seus maridos não chegavam da pesca em alto mar. Outra teoria é que a Ciranda foi criada pelos mouros e vinda pra cá trazida pelos portugueses. Pessoalmente acredito na primeira versão, pois é mais plausível aceitar que a brincadeira de criança virou também brincadeira de adulto do que tentar imaginar um costume árabe ou europeu que nem existe mais (se é que um dia existiu).
Por ser uma dança tipicamente praieira, ou seja, realizada nas praias, a Ciranda geralmente era dançada nas marés baixas por pescadores, familiares e amigos. Porém, isso não quer dizer que a mesma não possa ser realizada em outros locais a exemplo de palcos e praças. Outra característica marcante da Ciranda é que ela “evolui” durante sua execução. Começa com um pequeno grupo de pessoas e antes que se termine a primeira musica já se pode observar que o tamanho da roda se duplica, triplica ou quadruplica de tão contagiante que é o ritmo, acarretando assim numa linda imagem para quem canta em cima do palco, como também para quem apenas observa.
“Pra se dançar Ciranda juntamos mão com mão. Fazendo uma roda cantando essa canção”. Nada melhor para explicar como se dança Ciranda como nessa estrofe da música: Minha Ciranda de Capiba. Dançar Ciranda é isso ai, não tem segredo. É uma dança de coreografia simples. Sendo assim, é só se deixar levar pelo ritmo. Entretanto, há algumas “regrinhas” básicas a seguir para quem é principiante e deseja ser um brincante. Geralmente é uma dança de compasso lento e constante não sofrendo muita variação rítmica de tempo. Basicamente se dança Ciranda marcando o ritmo com o pé esquerdo na frente (alguns brincantes marcam com o pé direito, pode variar, isso não é um erro, afinal, a Ciranda antes de tudo é uma brincadeira e não uma competição). A roda é girada em sentido anti-horário, ou seja, pelo lado direito e quando a Ciranda vai ficando grande demais se forma uma menor no interior da maior. Os brincantes não têm limite de tempo para permanecerem na Ciranda, saem e entram na hora que quiserem. Alguns brincantes mais experientes improvisam uns passos que podem ser seguidos pelos demais ou não. Tudo isso é dançado ao som da zabumba (e/ou alfaia), caixa, ganzá e pandeiro (em algumas Cirandas são usados instrumentos de sopro e até sanfona).
A Ciranda tem seu rei e sua rainha, o falecido; Antônio Baracho (Mestre Baracho) e Madalena Correa do Nascimento, mais conhecida como Lia de Itamaraçá. Podemos citar também dois grandes divulgadores deste singular ritmo; o já falecido Francisco de Assis França, vulgo Chico Science e Sérgio Veloso, mais conhecido como Siba. Porém, queria dedicar estas ultimas linhas a cirandeira Lia de Itamaracá que apesar das dificuldades com relação a apoio e praticamente com a cara e a coragem, aos trancos e barrancos leva em frente à cultura da Ciranda, divulgando em festivais nacionais e vez ou outra fazendo turnês lá fora. Também com muita dificuldade toca em frente um projeto chamado Estrela de Lia. O referido centro cultural corre o risco de fechar suas portas pelo mesmo motivo de tantos outros centros que tentam difundir e perpetuar a cultura de raiz fecharam, falta de incentivo publico ou privado. Infelizmente não só o nosso estado como também todo o país tem um costume feio, apóia o que não presta e deixa de lado as vertentes mais ricas da nossa cultura. Cabe a nós abrir os olhos para esse grave problema. Afinal, já não basta terem acabado com nosso clima, agora estão querendo acabar até com nossa cultura!

Um comentário:

  1. Um "tiro certeiro" na mente de quem anseia conhecer e/ou saber das tradições do vosso estado. Congratulações pelo blog, camarada!

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