Proveniente da mata norte Pernambucana o auto popular existe para comemorar o nascimento do menino Jesus, ou seja, no Cavalo Marinho não existe só o lúdico como também há toda uma religiosidade por trás. Assim como o Maracatu Rural, o Cavalo Marinho é dançado pelos homens do campo. Em outras épocas só os homens praticavam o folguedo e se travestiam dos personagens femininos para suprir a falta de mulheres na dança. Como os movimentos feministas da era moderna abriram portas em vários campos do econômico e social, no campo da cultura não foi diferente e hoje, não há restrições no Cavalo Marinho entre homens e mulheres, todos podem participar não só nos personagens como também na orquestra.
O Cavalo Marinho tem origem portuguesa, porém ao ser implantado no Brasil ganha uma nova leitura rítmica e se torna mais rápido, sem contar também o fato de que o Cavalo Marinho em sua versão brasileira incorpora uma infinidade de novos personagens específicos tupiniquins, chegando a agregar cerca de setenta e seis figura. O Cavalo Marinho é realizado principalmente no período natalino, mas isso não quer dizer que em outros períodos do ano os brincantes do Cavalo Marinho não se apresentem. Apesar de ser uma manifestação Pernambucana, o Cavalo Marinho provou que não só é conhecido no território Pernambucano como também nos quatros cantos do país, sendo executado até em outros países (principalmente no continente Europeu). Tal reconhecimento e divulgação do Cavalo Marinho deve-se ao (já falecido) Mestre Salustiano e bandas como Mestre Ambrósio, Maciel Salú, Filhos de Salú e tantos outros divulgadores da CPP (Cultura Popular Pernambucana).
O Cavalo Marinho tem como principal característica o ritmo vibrante e alegre, o perfil de seus personagens também seguem a mesma linha. E a história é a seguinte: o folguedo é um auto popular, ou seja, uma espécie de peça teatral feita por amadores e gira em torno de basicamente três personagens principais; Mateus, Bastião e o Mestre Ambrósio. Mateus e Bastião são dos negros que dividem a mesma mulher (Catirina), são os primeiros a entrarem na dança. Os dois fazem mugangas (caretas) e palhaçadas, são os únicos que permanecem na roda durante toda a apresentação, marcam o ritmo da dança batendo o tempo todo nas pernas com uma bexiga confeccionada com testículo de boi. Os dois estão à procura de emprego e são contratados para comandar a festa, ou seja, uma espécie de Bobo da corte. São contratados pelo capitão Marinho que chega em seu cavalo (daí a derivação do nome Cavalo Marinho).
No desenrolar da festa aparece o personagem Ambrósio, que tem como função vender os demais personagens do reisado, Ambrósio é uma espécie de mercador de figuras. Dentre quase os oitenta personagens alguns se destacam mais, como por exemplo, o Capitão (chefe político e/ou dono da terra), o Soldado (subalterno do Capitão e instaurador da ordem publica), os Galantes e as Damas (espécie de nobres), o Caboclo de Arubá (entidade religiosa) e o Boi (que ao final da brincadeira é dividido por todos os outros personagens). Como o capitão é o poder vigente, ele próprio é quem comanda a dança e para isso tem o auxilio de um apito que dependendo do timbre determina o inicio e o termino da apresentação. Durante a execução do reisado, cada integrante representa mais ou menos de três a quatro personagens (exceto os principais) que interagem com o publico presente a todo tempo. O “Banco” no Cavalo Marinho nada mais é que a banda. Os músicos e sua orquestra são chamados assim pelo fato de tocarem sentados em um banco de madeira. Os instrumentos principais usados na apresentação são: a rabeca, o reco-reco, o ganzá e o pandeiro, podendo ser incorporados mais instrumentos (dependendo da necessidade).
Um ponto maximo da apresentação é a dança dos arcos. Tal dança consiste em uma espécie de ballet coreográfado onde os (as) dançarinos (as) se cruzam entrelaçando arcos coloridos com fitas, remetendo a idéia de ligação do mundo profano com a dimensão sagrada. Sendo assim, a dança dos arcos é um tipo de elo entre o céu (sobrenatural) e a terra (natural). Como tem suas raízes e inspirações nas Danças de Reis e no Bumba-meu-boi, o Cavalo Marinho não poderia fugir dessa ligação entre o Homem & Deus e para exemplo disso podemos citar os três tipos de personagens que se encontram presente na manifestação, são eles: os personagens humanos, sobrenaturais e animais.
A principal meta do Cavalo Marinho além de divertir é fazer a junção do real com o abstrato, do sagrado com o profano, do lúdico com o lírico e do temporal com o atemporal. Servindo assim para repassar uma determinada tradição não só em sua localidade como também, ao mesmo tempo tem como função divulgar sua cultura em outras localidades, perpetuando assim em forma de “oralidade musicada” todo um imaginário popular centenário. Um exemplo disso são as apresentações em praças e teatros de todo o país, principalmente no período natalino.
Ando querendo tocar rabeca e em minha busca por uma li alguma coisa sobre esse auto, interessei-me e encontrei teu blog. Desconhecia completamente a existência de "Cavalo marinho" - até hoje - e mesmo não sendo cristã me parece um auto "fantástico" (aliás isso, talvez, se deva também a minha descrença).
ResponderExcluirSou paraense e aqui usamos rabeca na Marujada de Bragança, festa em louvor a S. Benedito, que também tem um forte apelo cultural aqui na região.