quarta-feira, 23 de junho de 2010

Coco

Nesse pequeno artigo escreverei sobre o Coco, desde sua origem aos dias atuais, lembrando dentro deste contexto, seus mestres e mestras que ao longo dos anos (com muito sacrifício e labuta) divulgam o ritmo. Pois bem, no que diz respeito a sua origem, alguns estudiosos, historiadores e folcloristas em suas teses divergem entre si. Alguns defendem a idéia de que o Coco surgiu a principio nos engenhos interioranos e só a posteriori chega ao litoral. Outros acreditam que seu surgimento se dá na própria região do litoral. Entretanto há uma terceira hipótese, nela, acredita-se que o Coco já teria vindo do continente Africano, através das tribos de origem Banto (habitantes da região hoje conhecida por Congo e Angola).

Não só a origem como também a diversidade rítmica do Coco são multifacetadas, dependendo da região o Coco sofre alterações rítmicas como também mudança no que diz respeito à nomenclatura e até mesmo nos instrumentos usados. Ou seja, no Coco há várias versões e inúmeras maneiras de executa-lo. A exemplo podemos citar as variações: Rítmicas - Coco de Ganzá, Coco de Zambê e Coco de Mungonguê. Métrica dos versos - Coco Agalopado, Coco de Sétima e Coco de Embolada. Dependendo do local também recebe vários nomes: Coco de Roda, Coco do Sertão, Coco de Praia, Catolé, Toré, de Umbigada, de Desafio, etc. Apesar das variações nos quesitos métrica, ritmo e espaço geográfico; A pisada (ritmo) não sofre consideráveis alterações ao ponto de não conseguirmos decifrar a música tocada, pois quando se vê uma roda de Coco é impossível não saber que ritmo tão peculiar é aquele.

Até então, vimos que o Coco é um ritmo que sofre pequenas alterações, mas não precisamos nos preocupar, pois Coco é Coco em qualquer lugar, independente do nome que lhe é atribuído: De roda, de umbigada, do sertão ou da praia, tanto faz, até porque, o que nos interessa é a musicalidade do ritmo e não a epistemologia. Por falar em influência, não podemos negar nunca quais foram as influencias obtidas e anexadas ao Coco. Dentre as principais influências estão à africana e a indígena. Do lado Africano temos o ritmo propriamente dito, os tambores e chocalhos tocados em 2/2 e/ou 2/4 e cantados na forma refrão-estrofe. Na influencia indígena, temos a questão estética do grupo, ou seja, a maneira dos participantes posicionarem-se, que é em fileira ou em forma de roda. As influências do Coco, como eu já disse, são incontestáveis, como também é inegável sua origem Nordestina. Se todo estudo a respeito de um tema gera diversas teorias, com o Coco acontece o mesmo. Alguns pesquisadores acreditam que o ritmo é Pernambucano, outros acreditam ser Paraibano e há ainda um terceiro grupo que acredita que o Coco tenha surgido em Alagoas. Por ser um ritmo tipicamente Brasileiro e consequentemente Nordestino, cada um dos três estados o “querem” pra si, já que acima de tudo é um signo de afirmação de identidade regional.

Nas teorias lançadas para tentar explicar a origem do Coco, há exemplos e argumentos bem elaborados e sucintos. Um desses diz que o Coco é originário do quilombo dos Palmares. Os ex-escravos alojados no quilombo usavam o fruto coco para auto-sustentação e o quebravam a fim não só de extrair sua água e polpa, como também trabalhar (esculpir ou moldar) utensílios domésticos, tais como colheres, conchas, pratos, ponta de lanças, esculturas, etc. Durante o trabalho de quebrar o fruto, cantarolavam e alguns até dançavam. A teoria do interior diz que Coco surge a partir do momento em que trabalhadores se juntam em mutirões para bater o barro dos pisos das casas, pois, naquela época era comum entre a população mais carente, casas de piso de barro batido. De uma forma ou de outra, podemos concluir que o Coco surge do povo, ou seja, é uma dança popular. Com o tempo foi ganhando mais adeptos e seu período áureo se dá do começo dos anos 50 até o final dos 60, nessa época o Coco chegou a ser dançado em salões por pessoas de maior porte econômico. Após os anos 60 o Baião e o Samba ganham maior notoriedade e o Coco consequentemente perde espaço no cenário popular nacional.

O Coco pode ser dançado por homens e mulheres (exceto o coco de desafio, dançado só por homens) e em qualquer época do ano, ou seja, não há época especifica para se dançar Coco, porém há uma tradição maior no período junino. Apesar de ser uma dança laica e lúdica, o Coco é executado geralmente em festas religiosas: Festas de Reis ou de padroeiros como São José, São João, São Bendito, etc. No Nordeste há duas cidades conhecidas por difundir o Coco. Arcoverde, em Pernambuco e outrora, Campina Grande na Paraíba. Em Arcoverde ainda há um movimento organizado que trabalha no “resgate”, execução e divulgação do Coco. Movimento esse começado por Lula Calixto e continuado pelo grupo Coco Raízes de Arcoverde, além de outros grupos menos conhecidos. Tal empenho gera frutos, a banda Cordel do Fogo Encantado sem duvida é influenciada pelo ritmo. A vertente mais executada na região é o Coco de Toré e de Umbigada. Na Paraíba a cidade embaixadora do Coco é Campina Grande. Foi em Campina que o filho de Dona Flora Mourão, José Gomes Filho (mais conhecido como Jackson do Pandeiro), um Paraibano de Alagoa Grande, escolheu para divulgar o Coco de Embolada. Hoje na cidade ainda há um movimento considerável, mas “meio” esquecido pelo poder publico. Alguns nomes como Baixinho do Pandeiro, Benedito do Rojão e Biliu de Campina carregam (praticamente) “nas costas” a tradição do folguedo quase sem nenhum apoio. Enquanto isso, a cada São João a cultura de massa “chuta pra escanteio” a cultura popular.

No que diz respeito à métrica do ritmo e sua execução. Geralmente o Coco é tirado (cantado) por um mestre ou mestra coquista. Ao puxar (começar) os versos, o (a) coqueiro (a) é respondido pelo coro (demais integrantes da roda de Coco). Os versos podem ser já conhecidos ou de improviso como no Coco de Embolada.  Os instrumentos, independente da nomenclatura do Coco, são praticamente os mesmos: Triangulo, Ganzá, Surdo, Zambê, Zabumba, Caracaxá, Mongonguê, Cuíca, Alfaia, Pandeiro, e, o instrumento mais importante de todos, os Tamancos! São as sandálias de madeira e couro que dão autenticidade e legitimidade ao ritmo. Os tamancos dos (as) dançarinos (as) juntamente com as palmas fazem a marcação rítmica do Coco. A batida principal são três marcações fortes com o pé direito e uma mais fraca com o pé esquerdo, dependendo do Coco, as marcações são outras. Existem marcações mais rápidas e outras mais lentas. Como já disse, depende do Coco (de Roda, Embolada, Desafio...) e da região (PE-PB-AL...).

feito pelo povo e também uma dança feita para o povo. O Coco é a integração entre os mais diferenciados setores sociais da comunidade englobando qualquer tipo de brincante. No coco não há distinção alguma, todo mundo brinca independente do gênero, da raça, da crença ou condição financeira. Algumas artistas são “canonizados” na arte do Coco, pessoas como Flora Mourão, Jackson do Pandeiro, Lula Calixto, Bezerra da Silva, Selma do Coco, Lia de Itamaracá e Zé Neguinho do Coco. Inúmeros nomes (nordestinos ou não) da MPB (Musica Popular Brasileira) sofreram e sofrem influência do Coco. Nomes como Alceu Valença, Gilberto Gil, Gal Costa, Os Paralamas do Sucesso, Fagner, Chico Buarque, Zeca Pagodinho, Fernanda Abreu, Gabriel o Pensador, Domingunhos, Sivuca, Zé Ramalho, Renata Arruda, Elba Ramalho entre outros. A própria cena Mangue através de suas bandas também beberam da água musical do Coco, bandas, cantores e cantoras como Chico Science & Nação Zumbi, Otto, Silvério Pessoa, Ortinho, Comadre Fulorzinha, Escurinho, Issar França, Cascabulho, Khrystal, Alessandra Leão e Lenine.



Referencias Bibliográficas:

BRINCANTES. Recife: Prefeitura da Cidade, Fundação de Cultura Cidade do Recife, 2000. p. 104-107.

RIBEIRO, José. Brasil no folclore. Rio de Janeiro: Gráfica e Editora Aurora, 1970. p. 403-404.

Nova História da MPB. 2ª Edição. 1977. Ed. Abril Cultural

CASCUDO Câmara. Dicionário do Folclore Brasileiro

Ciranda



Já que andei falando muito de ritmos Pernambucanos do interior, resolvi dá uma esticadinha até o litoral e falar dessa vez de uma dança muito popular nas praias do litoral Pernambucano. Pois bem, a Ciranda é uma dança muito conhecida não só em Olinda, Recife e Itamaracá como também em outras bandas do país. No que diz respeito à ciranda só tenho a acrescentar elogios, pois, é com uma boa ciranda que se espanta a tristeza. Além de ser um ritmo eclético, pois engloba todo e qualquer tipo de pessoa sem distinção alguma, independente de raça, status social, sexualidade, idade ou credo. Engana-se quem pensa que dançar Ciranda não é prazeroso pelo fato de ser uma dança simples, ao contrário. Quando se dança Ciranda se volta no tempo e se relembra as brincadeiras de infância que o tempo teima em nos fazer esquecer. A Ciranda não tem como finalidade só relembrar o passado, também serve para cultivar amizades presentes, pois, quando se está dançando Ciranda todo mundo é amigo e não existe competição.
Uma das teorias do surgimento da Ciranda é a de que a mesma foi criada pelas mulheres dos pescadores no intuito de distrair seus filhos enquanto seus maridos não chegavam da pesca em alto mar. Outra teoria é que a Ciranda foi criada pelos mouros e vinda pra cá trazida pelos portugueses. Pessoalmente acredito na primeira versão, pois é mais plausível aceitar que a brincadeira de criança virou também brincadeira de adulto do que tentar imaginar um costume árabe ou europeu que nem existe mais (se é que um dia existiu).
Por ser uma dança tipicamente praieira, ou seja, realizada nas praias, a Ciranda geralmente era dançada nas marés baixas por pescadores, familiares e amigos. Porém, isso não quer dizer que a mesma não possa ser realizada em outros locais a exemplo de palcos e praças. Outra característica marcante da Ciranda é que ela “evolui” durante sua execução. Começa com um pequeno grupo de pessoas e antes que se termine a primeira musica já se pode observar que o tamanho da roda se duplica, triplica ou quadruplica de tão contagiante que é o ritmo, acarretando assim numa linda imagem para quem canta em cima do palco, como também para quem apenas observa.
“Pra se dançar Ciranda juntamos mão com mão. Fazendo uma roda cantando essa canção”. Nada melhor para explicar como se dança Ciranda como nessa estrofe da música: Minha Ciranda de Capiba. Dançar Ciranda é isso ai, não tem segredo. É uma dança de coreografia simples. Sendo assim, é só se deixar levar pelo ritmo. Entretanto, há algumas “regrinhas” básicas a seguir para quem é principiante e deseja ser um brincante. Geralmente é uma dança de compasso lento e constante não sofrendo muita variação rítmica de tempo. Basicamente se dança Ciranda marcando o ritmo com o pé esquerdo na frente (alguns brincantes marcam com o pé direito, pode variar, isso não é um erro, afinal, a Ciranda antes de tudo é uma brincadeira e não uma competição). A roda é girada em sentido anti-horário, ou seja, pelo lado direito e quando a Ciranda vai ficando grande demais se forma uma menor no interior da maior. Os brincantes não têm limite de tempo para permanecerem na Ciranda, saem e entram na hora que quiserem. Alguns brincantes mais experientes improvisam uns passos que podem ser seguidos pelos demais ou não. Tudo isso é dançado ao som da zabumba (e/ou alfaia), caixa, ganzá e pandeiro (em algumas Cirandas são usados instrumentos de sopro e até sanfona).
A Ciranda tem seu rei e sua rainha, o falecido; Antônio Baracho (Mestre Baracho) e Madalena Correa do Nascimento, mais conhecida como Lia de Itamaraçá. Podemos citar também dois grandes divulgadores deste singular ritmo; o já falecido Francisco de Assis França, vulgo Chico Science e Sérgio Veloso, mais conhecido como Siba. Porém, queria dedicar estas ultimas linhas a cirandeira Lia de Itamaracá que apesar das dificuldades com relação a apoio e praticamente com a cara e a coragem, aos trancos e barrancos leva em frente à cultura da Ciranda, divulgando em festivais nacionais e vez ou outra fazendo turnês lá fora. Também com muita dificuldade toca em frente um projeto chamado Estrela de Lia. O referido centro cultural corre o risco de fechar suas portas pelo mesmo motivo de tantos outros centros que tentam difundir e perpetuar a cultura de raiz fecharam, falta de incentivo publico ou privado. Infelizmente não só o nosso estado como também todo o país tem um costume feio, apóia o que não presta e deixa de lado as vertentes mais ricas da nossa cultura. Cabe a nós abrir os olhos para esse grave problema. Afinal, já não basta terem acabado com nosso clima, agora estão querendo acabar até com nossa cultura!

Caboclinho

Nos antigos livros didáticos de estudos sociais tínhamos que decorar a “mistura” do branco com índio, branco com negro e negro com índio. Tais misturas resultariam nas “sub-raças”: caboclo, mulato e mameluco. Confesso que era um saco ter que decorar tal formula metódica e chata. Porém, eu tive que recapitular esse assunto para chegar onde eu quero. Pois bem, no artigo de hoje falarei de forma bem sucinta (assim espero) sobre o Caboclinho. Sabendo que Caboclo é a mistura do branco com o índio, caboclinho seria a grosso modo; o filho do caboclo. Portanto, de origem indígena, o Caboclinho é uma das manifestações culturais mais antigas do Brasil. A quem diga que é a mais antiga e já era realizada por essas bandas antes mesmo da chegada dos europeus. Seu registro oficial data de 1584, no livro “Tratado e Terra da Gente do Brasil” do padre Fernão Cardim.

O Caboclinho com o passar do tempo sofreu alguns desfalques, um bom exemplo são as canções. Sendo de origem indígena, suas letras eram passadas de forma oral, ou seja, de pai para filho, já que os índios brasileiros não possuíam escrita. Durante o extermínio promovido pela coroa portuguesa, várias tribos foram extintas e com seu povo morreu também parte do folclore Caboclinho. O pouco que ainda resta é encenado no carnaval e principalmente nas cidades do interior do estado nas festas de padroeiro (a). Curiosamente o que podemos observar é que até o Caboclinho de certa forma sofreu um sincretismo religioso, já que foi criado para perpetuar a cultura e as crenças indígenas, hoje não deixa de ser uma encenação de caráter sagrado, porém agora, para a igreja católica (igreja essa que por sinal contribuiu e muito para o extermínio das tribos).

Musicalmente (segundo estudiosos) no Caboclinho não há nenhuma influência européia. Alguns pesquisadores comparam sua musicalidade com algo oriental, lembrando as canções Hindus, Árabes ou Chinesas. Uma característica marcante do ritmo é a forte marcação dos Trupés (pisadas dos pés no chão), que tem como finalidade fazer a base para os outros instrumentos como: surdo, inúbia (flautim de taquara) ou pífano, reco-reco, caracaxá, maracá (tipos de ganzá) e caixa (tarol). O ritmo por ser um ritmo de guerra e a dança representar as batalhas, o Caboclinho se torna muito marcante para quem assiste sua apresentação. A encenação se torna mais real quando os dançarinos em posse das suas preacas (arcos e flechas) criam estalidos durante as coreografias. A dança é tão bem executada que parece fazer os (as) dançarinos (as) flutuem. Tal ilusão de ótica se dá pelo fato da dança ser rápida e do baixar e levantar dos dançarinos (apoiados pela ponta dos pés e calcanhar), é tanta agilidade que até parece que os dançarinos tem molas nos pés. A indumentária dos brincantes é de uma exuberância sem igual, enfeitados (literalmente) dos pés à cabeça, os homens e as mulheres usam cocares e saias de penas de avestruz, ema e/ou pavão, se adornam também com cabaças na cintura, colares de sementes no pescoço, pulseiras e tornozeleiras bastante coloridas.

Sabemos que toda e qualquer manifestação cultural que retrata a vida social de um povo é constituída de hierarquias, com as tribos indígenas não seria diferente, no Caboclinho há também a famosa hierarquia. Os brincantes no espetáculo se dividem em: cacique, índia-chefe (mãe da tribo), pajé, capitão, tenente, pêros (indiozinhos e indiazinhas), porta-estandarte, caboclos de baque (músicos, geralmente quatro) e os caboclos e as caboclas.

Uma duvida muito comum é se o Caboclinho pernambucano e os Grupos de índios paraibanos são a mesma coisa. Friso eu, que apesar de serem muito parecidos, nas duas manifestações há algumas diferenças. Por exemplo: no Grupo de Índio não há o uso das preacas, sendo substituídos por lanças e machadinhas. Outra diferença peculiar desses dois grupos é a maneira de se pintar e a posição na apresentação. Geralmente os Grupos de Índios são batizados com nomes de tribos as quais há de maneira direta ou indireta descendentes, enquanto que no Caboclinho não é necessário se ter sangue indígena.

Além do cunho religioso e guerreiro na execução do Caboclinho, também há a prece da farta colheita e boa caçada. Como vimos acima, o Caboclinho é uma manifestação cultural que prima em passar a diante a cultura (ou o pouco que sobrou) indígena, suas batalhas, suas vitórias, seus heróis, etc. O Caboclinho é guerreiro e resiste assim como os próprios nativos brasileiros. Apesar dos pesares, a tradição (tanto nas tribos quanto na cidade) ainda é passada de pai para filho, tornando assim mais forte a ligação entre o mesmo sangue, o sangue brasileiro. Viva a miscigenação!

sábado, 19 de junho de 2010

Pastoril



Da infância muitas coisas me recordo, dentre estas lembranças está o Pastoril, folguedo popular que encena o nascimento de Jesus. Sendo uma festa de reis, o Pastoril é realizado em véspera de natal ou no dia do padroeiro. Lembro que nos anos 90 ir assistir ao Pastoril na praça principal era um programa para toda a família (inclusive a minha). Recordando o passado, resolvi relembrar um pouco da minha alegre infância recordando o Pastoril e tentando explicar a você caro leitor, o que vem a ser e o por que do Pastoril.

Então, o que é o Pastoril? Em Pernambuco (principalmente no interior do estado) é um folguedo que integra o ciclo de festas religiosas no período natalino. É classificado como festa de reis, se caracteriza dessa forma pelo fato do mesmo em sua encenação exaltar o nascimento de Jesus. O Pastoril hoje assumiu aspecto popular ao contrário de tempos atrás onde tinha caráter erudito. Durante a apresentação o publico participa intensamente torcendo por um dos cordões (o azul ou o vermelho), não sendo raro, palmas para sua cor favorita e vaias para a cor adversária tornando assim o espetáculo além de mais interativo, emocionante também.

Por que o nome Pastoril? Quem canta as loas (toadas, cânticos) são chamadas de pastorinhas, sendo assim, logo, as pastorinhas dançam e cantam nos Pastoris. O Pastoril serviu e serve ainda hoje para melhor compreensão da narrativa que cerca o nascimento de Jesus (principalmente para as crianças), é assistindo ao pastoril (história oral) que a criança compreende melhor o significado do nascimento de Jesus, para a religião cristã, nesse caso a crença católica, o Pastoril é de suma importância. Como toda peça teatral, a encenação é dividida por partes que são chamadas de atos. Apesar de ser um auto natalino profano o pastoril tem um “que” de sagrado, pois, geralmente é organizado pela igreja e realizado também nas festas de padroeiro (a) da paróquia.

Como é o Pastoril? Formam-se dois cordões, o azul e o encarnado (vermelho). As participantes carregam nas mãos pandeirolas com fitas das respectivas cores pertencentes a seu cordão. Os pandeiros servem para dá o compasso e marcar o ritmo durante a apresentação. Algumas delas trazem consigo sextas com flores e frutas simbolizando oferendas para o menino Jesus (representando assim os três reis magos). As personagens do folguedo são a Diana (vestida com as duas cores, portanto, a Diana é uma espécie de mediadora entre os dois lados). Comandando o cordão azul está a Mestra, consequentemente do outro lado se encontra a Contramestra representando o cordão vermelho, há também a Cigana, o Anjo, a Estrela e a Abelha. No final da apresentação quem decide (com aplausos) o cordão vencedor é o povo. *Nos pastoris mais antigos o Velho era o gaiato da peça, o tirador de onda..., soltava muitas piadas (na maioria das vezes pesadas). Há até relatos de que antigamente saia até para a briga por conta de tais piadas, hoje o personagem do Velho na maioria dos Pastoris que ainda resistem, foi extinto. Apesar da peça se consistir em vários atos, há dois mais importantes, o de chagada e o de partida. Assim como nos velhos paises europeus católicos (ex: Grécia, Roma, França, Portugal e Espanha), as festas eclesiásticas também se transformam em folguedos populares, sendo quase que impossível desvincular um do outro. Com o Pastoril acontece o mesmo.

Pra que serve o Pastoril? Com as encenações dos Pastoris ficou mais fácil compreender a cena que se via nos presépios natalinos, até porque com os Pastoris a cena do nascimento de Jesus ganhava vida e assim consequentemente mais veracidade. Estudiosos como Sylvio Romero e Pereira da Costa defendem a teoria de que nos séculos XVII e XVIII em Pernambuco o Pastoril teve seu tempo áureo. Já para Mario de Andrade só no período oitocentista (século XIX) é que o Pastoril teve seu apogeu. Divergências a parte, o Pastoril foi muito difundido por volta dos anos 30, 40, 50 em todo o NE, e, em tempos não tão longínquos assim. Pois até os anos 80 artistas e poetas dedicavam um pouco do seu tempo e seu dom para criar loas (canções) para os Pastoris. Diferente dos presépios vivos, os Pastoris eram encenados de forma lúdica e alegre, mas dinâmica pode-se assim dizer. A sociedade era dividida, uns gostavam e iam prestigiar, outros condenavam principalmente pela figura do velho "pilherento". O Fato é que o Pastoril é sagrado e profano ao mesmo tempo, não tendo uma identidade definida e isso incomoda pessoas mais conservadoras. Porém nada que tire o brilho desse brilhante folguedo popular que assim como nenhum outro perpetua de forma oral a história do nascimento de Jesus Cristo.

Cavalo Marinho

Proveniente da mata norte Pernambucana o auto popular existe para comemorar o nascimento do menino Jesus, ou seja, no Cavalo Marinho não existe só o lúdico como também há toda uma religiosidade por trás. Assim como o Maracatu Rural, o Cavalo Marinho é dançado pelos homens do campo. Em outras épocas só os homens praticavam o folguedo e se travestiam dos personagens femininos para suprir a falta de mulheres na dança. Como os movimentos feministas da era moderna abriram portas em vários campos do econômico e social, no campo da cultura não foi diferente e hoje, não há restrições no Cavalo Marinho entre homens e mulheres, todos podem participar não só nos personagens como também na orquestra.

O Cavalo Marinho tem origem portuguesa, porém ao ser implantado no Brasil ganha uma nova leitura rítmica e se torna mais rápido, sem contar também o fato de que o Cavalo Marinho em sua versão brasileira incorpora uma infinidade de novos personagens específicos tupiniquins, chegando a agregar cerca de setenta e seis figura. O Cavalo Marinho é realizado principalmente no período natalino, mas isso não quer dizer que em outros períodos do ano os brincantes do Cavalo Marinho não se apresentem. Apesar de ser uma manifestação Pernambucana, o Cavalo Marinho provou que não só é conhecido no território Pernambucano como também nos quatros cantos do país, sendo executado até em outros países (principalmente no continente Europeu). Tal reconhecimento e divulgação do Cavalo Marinho deve-se ao (já falecido) Mestre Salustiano e bandas como Mestre Ambrósio, Maciel Salú, Filhos de Salú e tantos outros divulgadores da CPP (Cultura Popular Pernambucana).

O Cavalo Marinho tem como principal característica o ritmo vibrante e alegre, o perfil de seus personagens também seguem a mesma linha. E a história é a seguinte: o folguedo é um auto popular, ou seja, uma espécie de peça teatral feita por amadores e gira em torno de basicamente três personagens principais; Mateus, Bastião e o Mestre Ambrósio. Mateus e Bastião são dos negros que dividem a mesma mulher (Catirina), são os primeiros a entrarem na dança. Os dois fazem mugangas (caretas) e palhaçadas, são os únicos que permanecem na roda durante toda a apresentação, marcam o ritmo da dança batendo o tempo todo nas pernas com uma bexiga confeccionada com testículo de boi. Os dois estão à procura de emprego e são contratados para comandar a festa, ou seja, uma espécie de Bobo da corte. São contratados pelo capitão Marinho que chega em seu cavalo (daí a derivação do nome Cavalo Marinho).

No desenrolar da festa aparece o personagem Ambrósio, que tem como função vender os demais personagens do reisado, Ambrósio é uma espécie de mercador de figuras. Dentre quase os oitenta personagens alguns se destacam mais, como por exemplo, o Capitão (chefe político e/ou dono da terra), o Soldado (subalterno do Capitão e instaurador da ordem publica), os Galantes e as Damas (espécie de nobres), o Caboclo de Arubá (entidade religiosa) e o Boi (que ao final da brincadeira é dividido por todos os outros personagens). Como o capitão é o poder vigente, ele próprio é quem comanda a dança e para isso tem o auxilio de um apito que dependendo do timbre determina o inicio e o termino da apresentação. Durante a execução do reisado, cada integrante representa mais ou menos de três a quatro personagens (exceto os principais) que interagem com o publico presente a todo tempo. O “Banco” no Cavalo Marinho nada mais é que a banda. Os músicos e sua orquestra são chamados assim pelo fato de tocarem sentados em um banco de madeira. Os instrumentos principais usados na apresentação são: a rabeca, o reco-reco, o ganzá e o pandeiro, podendo ser incorporados mais instrumentos (dependendo da necessidade).

Um ponto maximo da apresentação é a dança dos arcos. Tal dança consiste em uma espécie de ballet coreográfado onde os (as) dançarinos (as) se cruzam entrelaçando arcos coloridos com fitas, remetendo a idéia de ligação do mundo profano com a dimensão sagrada. Sendo assim, a dança dos arcos é um tipo de elo entre o céu (sobrenatural) e a terra (natural). Como tem suas raízes e inspirações nas Danças de Reis e no Bumba-meu-boi, o Cavalo Marinho não poderia fugir dessa ligação entre o Homem & Deus e para exemplo disso podemos citar os três tipos de personagens que se encontram presente na manifestação, são eles: os personagens humanos, sobrenaturais e animais.

A principal meta do Cavalo Marinho além de divertir é fazer a junção do real com o abstrato, do sagrado com o profano, do lúdico com o lírico e do temporal com o atemporal. Servindo assim para repassar uma determinada tradição não só em sua localidade como também, ao mesmo tempo tem como função divulgar sua cultura em outras localidades, perpetuando assim em forma de “oralidade musicada” todo um imaginário popular centenário. Um exemplo disso são as apresentações em praças e teatros de todo o país, principalmente no período natalino.

VEM CÁ VÊ: São João (Caruaru e Arcoverde)


O São João ta aí, em Caruaru já começou desde o dia 28/05, Caruaru que mesmo aos trancos e barrancos volta a realizar os festivais de fogueteiros e bacamarteiros, ocorrido no ultimo dia 05/06. São João este, que esse ano volta a incorporar as bandas “forrós de plásticos”. Pois, ano passado foram banidos do Pátio do forró. Atitude essa de minha parte lamentável, pois não creio que este estilo de música seja uma boa alternativa. Porém, os jovens gostam e são uma boa leva de publico, não restou a secretária de cultura outra opção a não ser, reincorporar esse estilo. Pensei que a população Nordestina estava cansada de “prestigiar” São João “acultural”, entretanto, vejo que me enganei!

Caro (a) leitor (a), venhamos e convenhamos: Você sair com sua namorada para o “Melhor São João do Mundo” e escutar musicas da pior qualidade, musicas que enfatizam a prostituição e fazem apologia ao consumo excessivo de álcool, é, no minimo um tanto quanto desagradável para não dizer lamentável. Pois bem, onde quero chegar com essa conversa? Vou citar um exemplo bem claro disso. Imagine a seguinte situação: Você está completando um ano de namoro e leva sua namorada para comemorar a data no “Maior São João do Mundo”, ao chegar no Pátio de Eventos você é agredido com letras de baixo calão, tipo: “É rapariga, é cabaré, é bagaceira...”, “Toma gostosa, lapada na rachada...”, “beber, cair e levantar” e tantas outras... É amigo, se você estiver acompanhado de quem você gosta, tipo a namorada, irmã ou mãe; acho que assim como eu, você também ficaria revoltado e indignado com tal situação que de fato é no mínimo constrangedora. Imagina pra quem é mulher ir pra uma festa em que a banda (atração principal) a difame e a trate puro e simplesmente como um objeto de consumo. E sabe qual é o pior da história? Tais bandas tem um publico fiel, inclusive mulheres que vão para esses shows ser chamadas de cachorras, vadias e etc. Algumas nem percebem a gravidade do fato e se percebem fazem de conta que não é com elas.

Por isso achei a iniciativa de barrar estas bandas que na minha opinião nem bandas são (na verdade, são fabricas de dinheiro que na realidade só existem para alimentar uma corja de empresários sanguessugas de prefeituras e alienadores de mentes). Cadê nossos bons e velhos artistas. Artistas estes que por incrível que pareça são mais valorizados no exterior que no próprio país ou região de origem. Artistas estes que quando são contratados são desrespeitados na forma do não pagamento de seus cachês, tendo os mesmo que esperar meses e até anos para receberem por seu trabalho. Enquanto os sanguessugas (do dinheiro publico) destratam nossas mulheres e ainda saem com milhões nos bolsos. Portanto, se você é chegado numa “fuleragem”, nem se preocupe, esse ano, você voltará a encontrar em Caruaru o que a cultura de massa cearense atualmente tem de “melhor” a oferecer! E apesar dos pesares, Caruaru ainda tem o maior Cuscuz, a maior Canjica, O maior Pé-de-Moleque, a maior Pipoca e a maior Pamonha do mundo! Vale a pena conferir e até comer um milho assado na feira.

Outro lugar de destaque no período junino em nosso Pernambuco é o São João de Arcoverde que em sua tradição, tem um dos melhores São João do Brasil, Arcoverde que respeita seus artistas e também sua população, Arcoverde que ainda não tombou e continua a fazer um São João de raiz com mais de 150 atrações. E, apesar de Calypson e Luan Santana, trás também atrações de peso como: Gilberto Gil, Elba Ramalho, Geraldo Azevedo, Zé Ramalho, etc. Se você gosta de Coco, “Forró de verdade” e ciranda e ainda não curtiu São João lá tá perdendo uma das melhores experiências musicais, lá tem de “tuia”. Então é isso, o convite está feito, ainda dá tempo curtir o São João, mas lembre-se sempre, curtir com responsabilidade, sempre respeitando o próximo, não exagerando na “birita”, se for beber não dirija e sempre use camisinha. Esses “conselhos de mãe” são meio guichês, mas ainda são muito úteis e válidos.

Xote



Não é uma dança criada em solo Pernambucano, porém, apesar de não ser uma dança surgida em nosso estado ao longo dos anos se tornou típica e assim conhecida e dançada não só por Pernambucanos (as) como também por todo Nordeste. E diria mais, não só conhecida e divulgada pelo NE como também difundida (através de outras vertentes) para outras regiões do nosso continental país, tal como a região Sul. O Xote não é uma dança uniforme e homogenia, dependendo da região pode variar muito sua execução. Um exemplo dessas variações são as inúmeras maneiras de dançar o Xote. Por exemplo, existe o Xote de Duas Damas; Uma variante do Xote onde o cavalheiro (peão) dança com duas damas, tal coreografia foi muito usada no estado de São Paulo nos anos 20. Há também o Xote Carreirinha, onde os pares correm numa mesma direção, essa vertente é muito popular no Rio Grande do Sul. No Xote das Sete Voltas o próprio nome já diz; o par tem que dar sete voltas no sentido horário e mais sete no sentido anti-horário. Já no Xote do Chico Sapateado os dançarinos se enlaçam pela cintura sapateando muito.

Não vejo o Xote como um ritmo e sim, o vejo como uma dança, pois sendo uma variação do ritmo Forró, o Xote é mais lento e arrastado. Também é chamado de “Arrasta-Pé” No nosso Nordeste, a variação mais dançada do Xote é o famoso “2 pra lá e 2 pra cá”. Até mesmo quem não é desengonçado pra a dança, é possível aprender a dançar o Xote, uma dança fácil porém prazerosa. Nós nordestinos temos mais facilidade em dançar, até porque convivemos desde crianças com o ritmo. Entretanto qualquer pessoa independente da idade e nacionalidade se faz capaz de dançar o Xote. Como diria Luiz ‘Lua’ Gonzaga: “O xote é bom de se dançar...”