Para uma maior legitimação da cena, foi publicado em alguns jornais o Manifesto Mangue, posteriormente impresso no CD de estréia da banda Chico Science & Nação Zumbi (Da Lama ao Caos, 1994). O manifesto “Caranguejos com Cérebro” é dividido em três partes e tem como temas o ecossistema manguezal, a geografia e o crescimento destrutivo em pró do progresso da cidade do Recife e por ultimo a cena Mangue, o perfil dos Mangueboys e Manguegilrs e o que era preciso fazer para estimular a cultura local. Abordando ainda o crescimento histórico desordenado da cidade do Recife, o aterramento dos mangues, rios, lagos, lagoas e estuários. Além das mudanças geográficas local, abordava ainda às condições sociais da população e o “resgate” das tradições culturais que estavam quase esquecidas. A inspiração do manifesto veio das obras Geografia da Fome (1946) e Homens Caranguejos (1967), ambas escritas pelo Sociólogo e geógrafo Josué de Castro, as obras foram de fundamental importância na metáfora do “Homem-Caranguejo”, onde a vida dos habitantes das margens do mangue da cidade de Recife é comparada com a vida de um caranguejo. No manifesto há até uma nomenclatura para tal ser, denominado de Chamagnathus Granulatus Sapiens. O documento se torna bem completo ao frisar questões históricas, geográficas, sociais e culturais.
( Mangue: O Conceito )
Estuário: parte terminal de um rio ou lagoa, em suas margens se encontram os manguezais, comunidades de plantas tropicais ou subtropicais inundadas pelo movimento das marés. Pela troca de matéria orgânica entre a água doce e a água salgada, os mangues estão entre os ecossistemas mais produtivos do mundo. Os estuários fornecem área de desova e criação para dois terços da produção anual de pescados do mundo inteiro. Apesar das muriçocas, mosquitos e mutucas; inimigos das donas-de-casa, para os cientistas, os mangues são tidos como símbolos de fertilidade, diversidade e riqueza.
( Manguetown: A Cidade)
A planície costeira onde a cidade do Recife foi fundada é cortada por seis rios. Após a expulsão dos holandeses, no século XVII, a (ex) cidade Maurícia passou a crescer desordenadamente as custas do aterramento indiscriminado e destruição dos seus manguezais. Uma cínica noção de progresso, que elevou a cidade ao posto de metrópole do nordeste, não tardou a revelar sua fragilidade. Bastaram pequenas mudanças nos ventos da história para que os primeiros sinais de esclerose econômica se manifestassem no início dos anos 60. Nos últimos trinta anos, a síndrome da estagnação, aliada à permanência do mito da metrópole, só tem levado ao agravamento acelerado do quadro de miséria e caos urbano.
( Mangue: A Cena)
Emergência! Um choque rápido, ou Recife morre de infarto! Não é preciso ser médico para saber que a maneira mais simples de parar o coração de um sujeito é obstruir suas veias. O modo mais rápido também, de enfartar e esvaziar a alma de uma cidade como Recife é matar os seus rios e aterrar os seus estuários. O que fazer para não afundar na depressão crônica que paralisa os cidadãos? Simples! Basta injetar um pouco de energia na lama e estimular o que ainda resta de fertilidade nas veias do Recife. Os Mangueboys e Manguegirls são indivíduos interessados em: Quadrinhos, TV interativa, antipsiquiatria, artismo, música de rua, sexo não virtual, conflitos étnicos e todos os avanços da química aplicada no terreno da alteração e expansão da consciência.
Vimos então, que o manifesto se faz presente no sentido literal da palavra, pois, expõe os problemas (o caos) e propõe melhorias. Tais melhorias seria a não poluição ambiental, poluição essa que degrada de maneira irreversível o ecossistema natural. Porém no parágrafo final, o manifesto se detém a explicar o perfil de um Mangue boy ou uma Mangue Girl, indivíduos preocupados com a poluição em nome do progresso.
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