As doses que beberam de regionalismo, os mangue boys beberam o equivalente da world music. Baseados principalmente na filosofia punk do Do it yourself (faça você mesmo), originalmente criada por Malcolm Maclaren (musico, compositor e empresário da banda Sex Pistols). A atitude punk representou um avanço ideológico para aqueles jovens da periferia, pois, seguindo a filosofia punk inglesa, eles poderiam fazer música de qualidade com poucos recursos. Bastavam alguns requisitos básicos como instrumentos baratos, criatividade e atitude. Foi com o slogan do “faça você mesmo” que os mangue boys saíram da lama e fincaram suas antenas para fora do Brasil.
Se de fora, os futuros mangue boys se inspiravam no punk inglês e no funk americano. Aqui no Brasil a banda que mais contribuiu para a formação musical de Chico Science, Fred 04 e Companhia foram os Mutantes com seu rock psicodélico e debochado (atitude incomum em meados dos anos 70 e começo da década de 80).
É seguindo os passos de Jimi Hendrix e baseado no rock’n roll setentista que Lúcio Maia (guitarrista da Nação Zumbi) faz seus arranjos até hoje, usando efeitos de pedais distorcidos ao extremo. Porém, o representante maior do rock’n roll entre os mangue boys, sem duvida é Fred 04. Antes de fundar a Mundo Livre S/A, integrou bandas punks como Trapaça, Serviço Sujo e Câmbio Negro HC11.
“A gente agiu à maneira de Malcom Maclarem. Vimos que ali havia elementos para criarmos uma cena particular. Então bolamos gírias, visual, manifesto. Quase todas as musicas que fizemos depois disto continuam palavras extraídas dos manifestos” (Fred 04 apud TELES, 2000: 274).
Fred é ex-punk e apesar de predominar em suas canções o ritmo “samba”, em suas letras podemos notar que as mesmas contém uma linhagem punk, abordando temas sociais e de caráter oposicionista, ou seja, Fred 04 é um sambista compositor de letras punks, e é essa mistura que o coloca na cena Mangue.
Jorge Cabeleira e Devotos do Ódio (bandas etiquetadas na cena Mangue da época) tinham um caráter mais agressivo musicalmente falando. A Devotos do Ódio tocava punk rock enquanto a Jorge Cabeleira tocava uma espécie de rock e baião conhecido como “rock regional”.
Seja punk inglês, funk americano ou até rock nacional, os mentores do movimento Mangue Beat não se inspiraram só nos ritmos regionais como maracatu, coco, ciranda e baião, mas também captaram o punk e o rock’n roll. Sem essa mistura de influencias, o Mangue Beat talvez nem existisse, pois, é característica principal da cena o hibridismo cultural.
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